sexta-feira, 26 de junho de 2009

A leitura é, sem dúvida, uma daquelas ações que é multifacetada. E, por ser exatamente assim, ela permite, a um só tempo, ser ponto de partida e ponto de chegada da nossa formação intelectual. Assista esse vídeo sobre "O que acontece quando lemos" (disponível no sítio Domínio Público) e faça seus comentários sobre a seguinte questão: quem lê mais escreve fatalmente melhor?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

REDAÇÃO em concurso público

O corriqueiro adágio “Em terra de sapo, de cócoras com ele” parece ainda não ter sido compreendido pela maioria esmagadora dos “concurseiros” de São Luís do Maranhão. Porém, já foi muito bem compreendido pelas instituições que necessitam de servidores cada vez mais capazes de se comunicarem e de lerem eficazmente.
O lançamento dos editais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e do Tribunal de Justiça (TJ) do Maranhão não deixam dúvidas sobre essa questão. Ambos solicitam em suas avaliações a prova discursiva como um instrumento medidor de uma série de conhecimentos. Chamo-a instrumento porque é capaz de mensurar não só parte do conhecimento específico e de mundo, mas também por ser capaz de verificar as habilidades linguísticas e o repertório vocabular dos candidatos.
O concurso do TRE solicita prova discursiva para os cargos de nível superior (Analistas Judiciários). A prova terá caráter eliminatório e classificatório e valerá até 10,00 (dez) pontos. Consistirá na elaboração de um texto, de 30 (trinta) linhas no máximo, acerca dos temas elencados no item 14 do edital elaborado pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE/UnB), dentre os quais podem ser destacados os assuntos relacionados a Direito Constitucional, a Direito Administrativo, a Administração Pública, a Direito Civil e Penal, a Direito Eleitoral, a Atualidades em geral. Além disso, a banca avaliará o domínio do candidato sobre a língua portuguesa escrita em nível culto, o manuseio dos recursos coesivos e denotadores de coerência para a elaboração de um texto que, segundo o edital, pode ser narrativo, descritivo ou dissertativo.
Já o Instituto de Estudos Superiores do Extremo Sul (IESES) deu à redação um caráter mais abrangente: exigiu a modalidade de prova discursiva para todos os cargos, de nível fundamental a nível superior. Também a estrutura da prova é totalmente diferente. No concurso do TJ-MA, a prova discursiva para os cargos de nível superior e de nível médio constará de 5 (cinco) questões teóricas e/ou práticas, que consistirão na execução de atos próprios do cargo-especialidade a ser provido, e versarão sobre as disciplinas e respectivos programas de cargo-especialidade, indicados para a prova objetiva apresentados no edital do concurso, como, por exemplo, noções de Administração Geral e Administração Financeira e Orçamentária ,para o cargo de Analista Judiciário – Especialidade Administrador; noções de Sistemas Operacionais, Internet, Engenharia de Informação, Linguagens de Programação, para o cargo de Analista Judiciário – Especialidade Analista de Sistemas – Desenvolvimento; noções de Administração Geral, Comunicação e seus Elementos, Gerenciamento eletrônico de Documentos – GED –, Expedição de Correspondência Oficial ,para o cargo de Técnico Judiciário – Especialidade Apoio Técnico Administrativo. Já os cargos de nível fundamental, Auxiliar Judiciário – Especialidade Apoio Administrativo e Auxiliar Judiciário – Especialidade Telefonista, terão como prova discursiva 2 (duas) questões, versando sobre assuntos relacionados à Organização Judiciária do Maranhão, 1 (uma) questão de Matemática,abrangendo os programas indicados para a Prova de Conhecimentos Básicos, e 1 (uma) redação. Os critérios de elaboração das respostas nas provas discursivas também são diferenciados em alguns pontos: as provas de nível superior deverão ter respostas apresentadas em um mínimo de 20 (vinte) e um máximo de 30 (trinta) linhas, cada uma; as provas de nível médio e fundamental, terão respostas variando entre 10 (dez) e 15 (quinze) linhas cada resposta; já a redação prevista para os cargos de nível fundamental deverá ser construída com no mínimo 20 (vinte) e no máximo 30 (trinta) linhas.
Todas as provas que envolvem a produção textual avaliarão a um só tempo as habilidades linguísticas dos candidatos, bem como a sua capacidade de síntese, de leitura, de percepção de enunciados. Todos sabem disso. Entretanto, há um provérbio chinês que alerta “uma coisa é saber que o caminho existe, outra é conhecê-lo”. Muitos candidatos sabem quais são os critérios a serem julgados numa prova de redação. Muitos candidatos sabem que é a redação que definirá muito bem a posição de cada aprovado nestes concursos. Muitos sabem, mas poucos se deram ao trabalho (árduo trabalho) de procurar trilhar este caminho.
Muitos jovens atravessaram o tortuoso caminho de sua formação intelectual lendo pouco e escrevendo menos ainda. Passaram pela educação, mas não deixaram a educação marcar-lhes profundamente as habilidades. Salvo os que não sabem porque não tiveram acesso à boa escola e a bons mestres, a grande maioria dos candidatos que pleiteiam uma vaga no TRE e no TJ acumulou dúvidas, vícios de linguagem, dificuldades de toda sorte em matéria de produção textual.
Agora, é chegada a hora das cobranças. E quem foi maduro o suficiente para perceber suas falhas, seus pontos fracos, e antecipou-se estudando com afinco e com antecedência, treinando a redação sob orientação de professores, informando-se, não poupando esforços para se superar, está prestes a coroar com vitória a sua trajetória de trabalho e dedicação.
Fazer diferente é ponto fundamental para vencer e aprender. Assumir novas posturas frente ao estudo é condição substantiva para tal empreendimento. Por isso, faça diferente a aprenda!

Boa sorte a todos.

Prof. Adeildo Júnior.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

AS ORAÇÕES ADVERBIAIS NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO



O texto que segue é de autoria desconhecida. Alguns, entretanto, o atribuem ao escritor argentino Jorge Luís Borges. Leia o texto e responda às questões propostas.


Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares aonde nunca fui, tornaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveram sensata e produtivamente cada minuto da sua vida, claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso e feita a vida, só de bons momentos; não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, urna bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Dana mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse urna vida outra vez pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

PARA QUE SERVEM AS ORAÇÕES ADVERBIAIS?

As orações adverbiais estabelecem relações lógicas e coesivas importantes na construção de um texto. Servem para inserir noções de tempo, finalidade condição, concessão ou ainda para estabelecer comparação, concomitância ou relações de causa e conseqüência entre dois fatos.
Embora as orações adverbiais sejam comuns na fala, alguns tipos aparecem mais restritamente em textos escritos, de acordo com o padrão culto da língua e com certo grau de elaboração de idéias.

01. Ao chegar aos 85 anos, o autor do texto faz uma avaliação de sua vida. Nessa espécie de “balanço”:
a) o que lamenta não ter vivido?
b) o que mais lamenta na forma como viveu a vida?

02. O texto contrapõe dois planos o da realidade concreta, já vivida, e o da realidade hipotética, que não foi mais poderia ter sido vivida.
a) Qual é a oração que permite adentrar o mundo da realidade hipotética?
b) Em que tempo e modo está a forma verbal dessa oração?
c) Que valor semântico essa oração expressa?
d) Identifique, no texto, outras orações com o mesmo valor semântico.

03. Observe que, tendo adentrado o mundo hipotético, várias orações (por exemplo, “Se­na mais tolo ainda [...]“, “Seria menos higiênico”, “Iria a mais lugares [...]“, etc.) descrevem a forma ideal de vida, de acordo com a ótica do autor.
a) Em que tempo e modo estão as formas verbais dessas orações?
b) O que esse tempo e modo verbais expressam semanticamente nesse contexto?
c) Como forma de justificar suas projeções hipotéticas, o autor introduz em alguns trechos flashes do passado e relata o modo como viveu. Identifique no 7º parágrafo uma oração subordinada adverbial causal que cumpra o papel de justificar as projeções hipotéticas do autor.

04. O último parágrafo rompe com o mundo hipotético e traz o autor de volta para o plano da realidade concreta. O parágrafo é introduzido pela conjunção mas, que tem o valor semântico de oposição. A que idéia anterior esse parágrafo se opõe?

05. Justifique o título do texto.

06. Como conclusão do estudo, indique o item que resume melhor o papel das orações adverbiais condicionais para a construção do texto lido:
a) Elas introduzem a condição necessária para que o autor faça uma retrospectiva crítica de sua vida.
b) Elas introduzem um plano hipotético a partir do qual o autor imagina como poderá viver melhor.
c) Elas introduzem a condição necessária para que o autor adentre o mundo hipotético em torno do qual o texto é construído.
d) Elas introduzem a condição necessária para que o autor possa dar conselhos a outras pessoas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CONJUNÇÕES BÁSICAS: SE e QUANDO

Por Velimatti Towonen, Timo Kauppi e Tim Murphey

Muitos terapeutas e comunicadores eficazes usaram intuitivamente as conjunções "se" e "quando" da maneira certa para um bom resultado. As imagens e processos cerebrais produzidos, quando se usa cada um deles, são completamente diferentes. Experimente o seguinte:

Pense em algum resultado que você ainda não obteve. Então diga sobre o dito resultado (X):

* "Se eu alcançar .../ obterei X".

Preste atenção como é sua imagem mental, qual é o processo, se existe algum, ao nível da experiência sensorial, e como você se sente sobre X agora?

Então diga sobre o mesmo resultado:

* "Quando eu alcançar / obterei X".

O que acontece agora com a imagem mental? Qual é o processo iniciado em sua mente por esta sentença? E como você se sente sobre X agora?

Você pode comparar o que você observou com as experiências de outras pessoas com as quais nós trabalhamos. Para a maioria das pessoas, imagens associadas com " se X " são de alguma forma pouco claras, indecisas, titubeantes, como um desejo, o qual não têm certeza de alcançar. Comparadas com " quando X " a imagem " se X " é seguidamente mais distante, menos colorida, podendo até existir em preto e branco. As sensações do "se X" usualmente não são muito motivadoras e nem muito fortes.

Quando é mudada para quando, para muitas pessoas a imagem surge mais próxima, torna-se maior, pode se tornar mais colorida, podendo até transformar-se em um filme colorido etc. e seguidamente se move para o futuro na linha do tempo. Quaisquer que sejam as mudanças que a submodalidade apresentar para um indivíduo com "quando X", elas são sentidas de forma mais verdadeira, muito mais realizável e surpreendentemente muitas pessoas dizem: "Eu agora tenho certeza que vou obter, sem problemas." Ou: "Eu sinto quase como se já tivesse. Agora é mais como um fato do que como um sonho".

Se você prestou bastante atenção ao processo iniciado por "quando", você possivelmente observou outras coisas que muitas pessoas experimentaram: Quando começa um processo onde o cérebro faz um plano ou constrói os passos de como alcançar X. Este processo automático de planejar gera uma sensação de "certeza de obter" em relação ao "quando X ".

Esta diferença entre quando e se pode ser semelhante à diferença entre acreditando e desejando para os clientes.

Quando eles acreditam que vão ficar bem, eles tomam mais atitudes que lhes darão melhores chances de alcançar aquele resultado. Se eles apenas têm esperança de ficar bem eles não fazem muito porque estão inseguros de qualquer benefício. Imagine suas diferentes reações agora se um médico lhe dissesse:

* Quando você ficar melhor...
e
* Se você ficar melhor

ou

* Eu acredito que você ficará melhor...
e
* Eu desejo que você fique melhor...

Cada vez que você pronunciou uma ou outra, a pessoa que estiver ouvindo e tentando entender o que você diz entra no processo descrito acima. Após entender isto, fica-se muito interessado em como usá-los (estas conjunções) para obter o efeito máximo.

Na análise acima de se e quando, tentamos, tanto quanto possível, isolar o efeito das conjunções e das outras palavras e estruturas da sentença que pudessem exercer sua própria influência na experiência sensorial, fisiologia e processos cerebrais. Outros fatores, como ecologia, têm influência também.

Em terapia, por exemplo, pode haver uma frase onde é apropriado usar se, porque pode ser mais fácil para o cliente pensar sobre as possibilidades de comprometer-se: em algumas outras frases pode ser necessário falar quando, porque cada quando coloca o cérebro do cliente num processo de construir os passos em direção a um resultado. Se e quando vêm de dois mundos completamente diferentes, criam associações diferentes, os pensamentos e sensações são diferentes. É uma grande mudança mover um X do mundo do se para o mundo do quando e vice versa.

Como muitas outras distinções em PNL, há pessoas que preferem se e há outras que preferem quando. Você pode querer acompanhar o tipo de conetivo que a outra pessoa está usando, antes de liderá-la para um novo mundo.

Nossa idéia é que estes conetivos básicos são uma das maneiras pelas quais a linguagem estrutura nossa experiência e nosso mapa do mundo em um nível abstrato e muito profundo. Por exemplo, os tempos de verbo são tão automáticos que na realidade não há como evitá-los: quando você diz quando para uma pessoa que está lhe ouvindo, o cérebro dela faz o processo do quando antes que ela possa pensar sobre isto. Este é o primeiro sinal. Se o quando é irrealístico ou não ecológico, a pessoa recebe algum outro tipo de sinal e no segundo sinal reconsidera e pula fora da palavra quando. Isto acontece algumas vezes, mas você pode reconstruir o rapport que perdeu.

O uso sutil de SE e QUANDO

Se e quando são apenas a ponta do iceberg de como transmitir diferentes graduações de significado sobre o que será possível ou não. Se você adicionar operadores modais e formas e tempos verbais, você poderá fazer diferenças muito mais sutis. Você pode estudar as sentenças seguintes para descobrir o que elas fazem no seu processo cerebral, na sua experiência sensorial e na sua fisiologia associada:

* "Se você pudesse fazer isso..."
* "Se você puder fazer isso..."
* "Se você pode fazer isso..."
* "Quando você puder fazer isto..."
* "Se algum dia for possível, como seria?"
* "Agora suponhamos que um dia seja possível. Quando for, como será?"
* "E agora sabendo como é quando for possível, como será após tê-lo feito?"
* "E agora, tendo já feito isso, observe as coisas que você faz para que isso aconteça, quando você quiser."
* "Agora, eu não sugeriria que você fizesse estas coisas agora. Faça-as somente quando você estiver pronto para realizá-las."


POR VELIMATTI TOWONEN, TIMO KAUPPI E TIM MURPHEY Extraído da Anchor Point de outubro de 1993 Tradução: Evanice L. Pauletti Revisão: M.Helena Lorentz Publicado no "Golfinho" impresso nº42 - JUL/98

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

LER E PRAZER


Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que a cabeça esteja vazia de pensamentos para que os olhos possam ver. Aprendi isso lendo Alberto Caeeiro, especialista inigualável na difícil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos olhos...” Mas meus esforços são frustrados. As coisas que vejo são como o beijo do príncipe: elas vão acordando os poemas que aprendi de cor e que agora estão adormecidos na minha memória. Assim, ao não pensar da visão une-se o não pensar da poesia. E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei. Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da beleza. “Aquilo que a memória amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida. Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo. Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...


Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso entortou quando ele disse: “Vão também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da Odisséia, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...


Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer. E antes que tivessem idéias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária dirigi-me a eles, ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa...” Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que eu fosse, lá vinham eles com a Odisséia na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me deram descanso.


Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que freqüentei. Havia uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos. Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha do tesouro. Quando a aula terminava era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser armazenadas na cabeça. Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformações alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que leiam Guimarães Rosa que dizia que literatura é feitiçaria que se faz o sangue do coração humano.


Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura o professor lhes deu como dever de casa ler e fichar um livro chatíssimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento para os pais. A pura visão do livro provocava uma preguiça imensa, aquela preguiça que Barthes declarou ser essencial à experiência escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges havia declarado que não havia razão para se ler um livro que não dá prazer quando há milhares de livros que dão prazer. Sugeri-lhe começar por algo mais próximo da condição emotiva dos jovens. Ele me respondeu com o discurso de esquerda, que sempre teve medo do prazer: “ O meu objetivo é produzir a consciência crítica...” Quando eu li isso percebi que não havia esperança. O professor não sabia o essencial. Não sabia que literatura não é para produzir consciência crítica. O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta, ou são de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus “nem só de beijos e transas viverá o amor mas de toda palavra que sai das mãos dos escritores...”E foi em meio a essas meditações que, sem que eu o esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura... Mas o espaço acabou... O jeito é deixar para o próximo mês...



Por Rubem Alves, in: Folha de S. Paulo

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

DICAS PARA SE FAZER UMA BOA DISSERTAÇÃO

CONCEITO: Dissertar é expor idéias, é apresentar juízos, é argumentar, assumindo ou não uma posição em relação a um assunto.

Nesse sentido, podemos ter dois tipos de dissertação:

1. DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA - É aquela que apresenta uma abordagem crítica sobre determinado assunto. É a defesa do ponto de vista de quem escreve.
2. DISSERTAÇÃO EXPOSITIVA - É aquela que aborda uma verdade indiscutível. É a exposição de idéias sem tomar uma posição sobre elas. Tem apenas a intenção de informar.

ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

INTRODUÇÃO: É a apresentação do assunto a ser desenvolvido; É a tese, a idéia inicial, sem muitas explicações.
DESENVOLVIMENTO: É a elaboração discursiva da INTRODUÇÃO. É a justificativa da idéia inicial, com a apresentação de mais detalhes, exemplos, citações, etc.
CONCLUSÃO: É a síntese do DESENVOLVIMENTO. Retomada da idéia inicial, com a apresentação de um resumo do que foi exposto ou argumentado no DESENVOLVIMENTO.
CUIDADOS PRELIMINARES
1. Ler atentamente o tema, procurando entender perfeitamente o que é pedido, e se o valor das palavras que compõem o tema é conotativo ou denotativo;
2. Conhecer o tema a ser desenvolvido. Nesse sentido, a leitura permanente de bons livros, jornais e revistas é fundamental;
3. Delimitar o assunto. Partindo de um tema aberto, amplo, procurar restringi-lo a um de seus aspectos, tornando-o assim um tema fechado, restrito.
Exemplo:
ASSUNTO = "Carnaval" = tema aberto, amplo, abrangente; "A Nudez no Carnaval" = tema fechado, específico, delimitado.
4. Refletir sobre o tema. Procurando analisar o ponto de vista assumido, sua forma e suas variantes;
5. Planejar a elaboração de cada etapa da estrutura dissertativa (INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO E CONCLUSÃO);
6. Fazer um esboço, um rascunho inicial, no qual geralmente são feitas diversas alterações antes de se redigir o texto final;
7. Procurar redigir sempre na 3ª pessoa do singular ou do plural, ou ainda, na 1ª do plural para tornar o texto mais impessoal, evitando, dessa forma, expressões do tipo "na minha opinião...", "eu penso que...", "eu acho que...", etc.;
8. Procurar desenvolver uma habilidade e um estilo de expressão próprios;
9. Manter sempre objetividade e clareza na abordagem do tema;
10. Escolher, logo de início, um título bem adequado que servirá de guia, de orientação para o perfeito desenvolvimento do assunto a ser abordado. O título, na realidade, deve ser a síntese do assunto proposto pelo tema.
NOÇÕES DE DISSERTAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA
DISSERTAÇÃO OBJETIVA - É a apresentação do assunto de maneira impessoal, caracterizada pela linguagem denotativa. Texto onde prepondera a razão.
DISSERTAÇÃO SUBJETIVA - É a apresentação do assunto de maneira introspectiva, provocando a emoção do leitor e caracterizada pela linguagem conotativa.
CORREÇÃO DO TEXTO
Principais cuidados que devem ser tomados ao término da dissertação:
1. ADEQUAÇÃO: Verificar se o texto está adequado ao tema e à modalidade propostos;
2. COERÊNCIA: Observar se houve um começo, meio e fim coerentes e sequenciais, de acordo com a tese defendida;
3. CLAREZA: Entendimento perfeito das idéias expostas, sem a presença de ambiguidades. Para isso, tomar cuidado com a parte gramatical;
4. COESÃO: Organização lógica das frases, dos parágrafos e do texto como um todo.
MODELO SIMPLIFICADO DE UMA REDAÇÃO DISSERTATIVA

ASSUNTO: Opinião. TEMA (DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO): Direito de expor sua opinião. Existe ou não este direito?
TÍTULO: UMA NECESSIDADE HUMANA
INTRODUÇÃO: Apresentação da tese com seus argumentos.
ARGUMENTOS PARA SER DESENVOLVIDOS: 1) Necessidade de expor suas idéias, ou seja, é inerente ao ser humano a condição de dizer o que pensa;
2) Superação do interlocutor, ou seja, numa discussão, é a tentativa de convencer a pessoa com quem se dialoga de que você está certo;
Exemplo de Introdução:
"Como todo ser humano, emitimos nossas opiniões, sendo ou não solicitados, uma vez que a necessidade de expor nossas idéias é uma constante, além de nos sentirmos com a sensação de que sobrepujamos eventuais interlocutores."
Exemplo de Desenvolvimento:
"Percebermo-nos capazes de abordar qualquer assunto, independente da convicção que tenhamos sobre ele, alimenta-nos o ego, resgatando a própria imperfeição humana. Reconhecermo-nos aptos para toda discussão, confere-nos o poder, visto que o homem precisa dele para se sentir forte.
Não menos verdade é a satisfação de superarmos aquele de quem discordamos, não nos importando para isso quais recursos utilizemos, pois nos oferece a vitória e o poder, dominando o oponente pela nossa capacidade de persuasão. Entregamo-nos, então, uma medalha de autoconhecimento, o que nos alimenta substancialmente."
Exemplo de Conclusão:
"Dessa forma, é sempre muito importante termos uma opinião, pois através dela, não só suprimos uma grande necessidade que sentimos, como também vemos prostrado aquele que nos ousou desafiar."