domingo, 7 de julho de 2013

TIPOLOGIAS TEXTUAIS

Muito se fala em gêneros, sobretudo em boa parte dos encontros que tivemos, você mesmo(a) teve a oportunidade de conhecer uma grande maioria deles, não é verdade? Pois bem, a partir de agora, você irá conhecer passo a passo acerca do porquê de um determinado texto pertencer a este ou àquele gênero, tendo em vista as tipologias textuais a que pertence cada situação comunicativa.
Nesse momento, você deve estar se perguntando acerca do porquê de estudarmos isso, uma vez que já possui conhecimentos básicos para distinguir uma modalidade da outra. Sim, mas você não pode se esquecer de que conhecendo as chamadas tipologias textuais, você irá adquirir ainda mais habilidades para produzir quaisquer que sejam os gêneros solicitados, pois elas representam a base de sustentação para todos eles, certo?
Dessa forma, vamos ter uma ideia acerca do que seja esse nosso assunto tão importante, visto que as tipologias textuais podem ser consideradas como finitas, enquanto que os gêneros, por caracterizarem as diversas situações sociocomunicativas que norteiam nosso cotidiano, apresentam-se como incontáveis, dada a razão de se revelarem como muitos. Vamos a elas (tipologias textuais), portanto:
Antes de conhecê-las, torna-se essencial compreendermos que a classificação se dá mediante a forma pela qual se apresentam constituídas, segundo as características de ordem linguística, ou seja, nesse aspecto, predominam aspectos lexicais, sintáticos, uso dos tempos verbais, relações lógicas, entre outros.
 
O quadro a seguir exporá um esquema comparativo das tipologias:
 
(Clique na figura para ampliá-la).
 

ESTUDO DO PARÁGRAFO-PADRÃO


1 Técnica de Elaboração de Parágrafo

O parágrafo é uma unidade de composição do texto constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, à qual se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.

Segundo Othon M. Garcia, esse conceito se aplica a um tipo de parágrafo considerado como padrão, e padrão não apenas no sentido de modelo, de protótipo, que se deva ou que convenha imitar, dada a sua eficácia, mas também no sentido de ser frequente, ou predominante, na obra de escritores – sobretudo modernos – de reconhecido mérito.

 (Othon Garcia. Comunicação em prosa moderna. RJ: FGV, 1988, p.203)

 
2 O parágrafo-padrão

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz, – o que justifica seja ensinado aos principiantes – consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que passaremos a chamar daqui por diante de tópico frasal ou frase-núcleo); o desenvolvimento, isto é, a explanação dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.

(Idem, ibidem, p.206)

O desenvolvimento de um parágrafo por enumeração ou descrição de detalhes é dos mais comuns. Ocorre de preferência quando há tópico frasal explícito, como no exemplo abaixo extraído do livro O Mulato, de Aluísio Azevedo:

 
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua; as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e perna [calças] arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam compras para o jantar, ou andavam no ganho.

É um parágrafo bom. Note-se a ideia central, ou seja, a ideia núcleo expressa no tópico frasal e desenvolvida através de ideias secundárias e especificada através dos pormenores: as pedras, os lampiões, as paredes, as folhas, etc. São detalhes que tornam viva a afirmação “era um dia abafadiço e aborrecido”.

Leia agora o parágrafo abaixo e perceba como o autor, através de certos detalhes, consegue dar-nos uma ideia suficientemente clara do que ele considera como emoção estética, parte da afirmação contida no tópico frasal, que está explícito:
 
Arte é tudo o que pode causar uma emoção estética, tudo que é capaz de emocionar suavemente a nossa sensibilidade, dando a volúpia do sonho e da harmonia, fazendo pensar em coisas vagas e transparentes, mas iluminadas e amplas como o firmamento, dando-nos a visão de uma realidade mais alta e mais perfeita, transportando-nos a um mundo novo, onde a própria dor se justifica como revelação ou pressentimento de uma volúpia sagrada. É, em conclusão, a energia criadora do ideal.

Perceba também que, no primeiro parágrafo, temos um texto narrativo; ao passo que, o segundo é um parágrafo com um texto dissertativo, onde o autor expressa a sua visão do que seja “arte”. Assim sendo, podemos concluir que o processo de construção de parágrafos denominado enumeração serve tanto para parágrafos deste gênero, quanto daquele.
 
3 Partes componentes do parágrafo-padrão
 
Frase inicial - também denominada tópico frasal, é constituída de uma ou duas frases curtas, que expressam, de maneira sintética, a ideia principal do parágrafo, definindo seu objetivo;

Frases de desenvolvimento - corresponde a uma ampliação do tópico frasal, com apresentação de ideias secundárias que o fundamentam ou esclarecem;

Frase de conclusão - nem sempre presente, especialmente nos parágrafos mais curtos e simples, a conclusão retoma a ideia central, levando em consideração os diversos aspectos selecionados no desenvolvimento.

Mais um exemplo. Leia o parágrafo abaixo e veja onde cada tipo de frase ocorre:

A “internet” é uma rede mundial de computadores que não pertence a nenhum governo ou empresa. Surge nos Estados Unidos, na década de 60, na época da Guerra Fria, com base em uma rede de informações militares que interliga centros de comando e de pesquisa bélica. Para atender à necessidade militar de proteger os sistemas de defesa do país no caso de um ataque nuclear, a rede não tem um "centro" que poderia servir de alvo principal ao inimigo. Nos anos 70 começa a ser utilizada pela comunidade acadêmica mundial, e, em 1975, são feitas as primeiras ligações internacionais. Nesse período, os computadores conectados não passam de 200. Em 1997, segundo a Direct Marketing Association (DMA) e a Price Waterhouse, empresas norte-americanas de consultoria em marketing, o número de usuários chega a 60 milhões em todo o mundo. De acordo com as projeções de crescimento, deve alcançar 300 milhões no ano 2000.

 
4 A importância do tópico-frasal



O tópico frasal é de suma importância tanto para quem escreve quanto para quem lê o parágrafo.




Ø Para quem escreve, é importante para não “se perca” ao escrever, pois terá aquela ideia como base do parágrafo, evitando assim um aglomerado de ideias soltas. O tópico frasal será o seu “norte”.




Ø Para o leitor, é importante porque, ao iniciar a leitura do parágrafo tópico frasal, ele já sabe que ideia irá encontrar ao longo do parágrafo.




Observe como os tópicos-frasais bem elaborados encaminham boas argumentações nos exemplos a seguir.




Todos sabem que a cada dia se torna mais difícil trafegar pelas ruas da capital amazonense. Com a facilidade que existe hoje para se adquirir um automóvel, o número de veículos em circulação vem crescendo em larga escala. Só que a cidade não foi preparada para essa nova realidade. Cresceu rápida e desordenadamente nas últimas décadas, sem ruas e bairros planejados para a grande demanda de carros. Isso, somado à falta de preparo de motoristas e pedestres, resultou no trânsito confuso e estressante de hoje.




(Carlos Guedelha)




Quatro funções básicas têm sido atribuídas aos meios de comunicação: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos e comentários sobre a realidade. A segunda atende à procura de distração, de evasão, de divertimento por parte do público. A terceira procura persuadir o indivíduo, convencê-lo a adquirir certo produto. A quarta é realizada de modo intencional ou não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos.




(Samuel P. Netto)




O Brasil tem 31 milhões de crianças, destas, apenas três milhões terminarão o curso secundário. É uma forma de abandono disfarçado, mesmo daquelas que não dormem na rua. Um programa educacional para todas essas crianças não se fará pela lógica do crescimento econômico, mas sim usando um crescimento econômico que seja subordinado e compatível com a educação.





(Cristóvam Buarque, Humanidades, n. 1, 1992. pp. 10-12)







A globalização é o estágio supremo da internacionalização. O processo de intercâmbio entre países, que marcou o desenvolvimento do capitalismo desde o período mercantil dos séculos XVII e XVIII, expande-se com a industrialização, ganha novas bases com a grande indústria nos fins do século XIX e, agora, adquire mais intensidade, mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de trocas: técnicas, comerciais, financeiras, culturais.




(Milton Santos, Folha de S. Paulo, 5 abr. 1996)