sábado, 31 de maio de 2008

Esquema Básico de Dissertação

Imagine que você queira dissertar sobre o seguinte tema:

Tema

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos.

Sua primeira providência deve ser copiar este tema em uma folha de rascunho e fazer a pergunta: POR QUÊ?

Ao iniciar sua reflexão sobre o tema proposto e sobre uma possível resposta para a questão, procure recordar-se do que já leu ou ouviu a respeito dele. É quase certo que você tenha ao menos uma noção acerca de qualquer tema que lhe vier a ser apresentado.

O ideal, para que sua dissertação explore suficientemente o assunto, é que você obtenha duas ou três “respostas” para a questão formulada: estas “respostas” chamam-se argumentos. Vejamos agora que argumentos poderíamos encontrar para este tema. Uma possibilidade é pensar que um dos sérios problemas que o homem não consegue resolver é o da miséria. Assim, já teríamos o primeiro argumento:

Existem populações imersas em completa miséria.

Pensando um pouco mais nos problemas que enfrentamos, poderíamos formular o segundo argumento:

A paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais.

Refletindo um pouco mais sobre as questões que afligem a humanidade, logo lembramos do desequilíbrio ecológico, que pode ser nosso terceiro argumento:

O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Viu como foi fácil? Os argumentos selecionados são exaustivamente noticiados por qualquer meio de comunicação.

TEMA

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos.

1. Existem populações imersa em completa miséria.

2. A paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais.

3. O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Você pode encontrar outros argumentos além destes apresentados acima que justifiquem a afirmação proposta pelo tema. A única exigência é que eles se relacionem com o assunto sobre o qual está escrevendo.

Uma vez estabelecido o tema e os três argumentos, você já dispõe do necessário para, agora, na folha definitiva, começar a redigir sua dissertação. Ela deverá constar de três partes fundamentais: Introdução. Desenvolvimento e Conclusão.

Vamos agora redigir o primeiro parágrafo, ou seja, a Introdução, baseando-nos no quadro acima. Para compô-la, basta que você copie o tema e a ele acrescente os três argumentos, assim como aparecem no quadro. Veja como poderia ser:

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Observe que, na Introdução, os argumentos são apenas mencionados. Neste primeiro parágrafo informamos o assunto de que a dissertação vai tratar; cada argumento será convenientemente desenvolvido nos parágrafos seguintes. Repare nas palavras pois e além do mais, colocadas neste texto para ligar as diferentes partes da Introdução. São elas que reúnem o tema aos argumentos. Depois de terminado o parágrafo da Introdução, você poderá passar ao Desenvolvimento, explicando cada um dos argumentos expostos acima.

Assim, no próximo parágrafo, escreva tudo o que souber sobre o fato de existirem populações miseráveis.

Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos –, encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vamos com tristeza a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações.

Neste parágrafo, a coesão se dá pelo conteúdo do segundo parágrafo, que inteiramente retoma o conteúdo do primeiro argumento exposto na introdução.

No entanto, como você pode perceber, convém, vez por outra, lançar mão de certos exemplos para comprovar suas afirmações.

No parágrafo seguinte desenvolve-se o segundo argumento:

Além disso, nestas últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos inúmeros conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã e da Coréia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iuguslávia, em alguns países membros da Comunidade dos Estados Independestes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou.

Note a presença da expressão Além disso no início do parágrafo, que estabelece a ligação com o parágrafo anterior. Ela deve ser colocada para evidenciar o fato de que os parágrafos se relacionam entre si.

Falemos agora do terceiro argumento:

Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por transformar em local inabitável.

Observe a expressão Outra preocupação constante, colocada no início deste parágrafo. Ela é o elemento de ligação com o parágrafo anterior do Desenvolvimento. Estabelece a conexão entre os argumentos apresentados.

Para que sua dissertação fique completa, falta apenas elaborar um último parágrafo que se denomina Conclusão. Para isso, é preciso que analisemos suas partes constitutivas.

A Conclusão pode iniciar-se com uma expressão que remeta ao que foi dito nos parágrafos anteriores (expressão inicial). A ela deve seguir-se uma reafirmação do tema proposto no início da redação. No final do parágrafo, é interessante colocar uma observação, fazendo um comentário sobre os fatos mencionados ao longo da dissertação.

Com base nessa orientação, já podemos redigir o parágrafo final, ou seja, a Conclusão.

Em virtude de tudo isso, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os grandes problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.

OBSERVAÇÃO:

Caso você deseje, é possível que a Conclusão seja formada apenas pelo comentário final, dispensando o início, constituído pela expressão inicial e reafirmação do tema; eles atuam apenas como reforço, como ênfase ao problema abordado.

Agora, reunindo todos os parágrafos escritos, temos a dissertação completa, acrescida de um título:

Terra: uma preocupação constante

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.
Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos com tristeza, a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações.
Além disso, nestas últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos inúmeros conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã e da Coréia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iugoslávia, em alguns países membros da Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou.
Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável.
Em virtude de tudo isso, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os grandes problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.

Caso você deseje fazer uma dissertação um pouco menor, basta usar dois argumentos em vez de três.

domingo, 25 de maio de 2008

ESTUDO DOS RADICAIS

Radicais e compostos eruditos


O mecanismo da composição é utilizado para a formação de um tipo específico de palavras, conhecidas como compostos eruditos. Esse nome se deve ao fato de que em sua formação se utilizam elementos de origem grega e latina que foram diretamente importados dessas línguas com essa finalidade. Por isso, esses compostos são também chamados de helenismos e latinismos eruditos. São palavras como pedagogia e quiromancia (formadas de elementos gregos) ou arborícola e uxoricida (formadas por elementos latinos), normalmente criadas para denominar objetos ou conceitos relacionados com as ciências e as técnicas. Muitas delas acabam se tornando cotidianas, como telefone, automóvel, democracia, agricultura.
Apresentamos a seguir duas relações de radicais gregos e duas relações de radicais latinos. A primeira relação de radicais gregos e a primeira relação de radicais latinos agrupam os elementos formadores que normalmente são colocados no início dos compostos; a segunda relação de radicais agrupa, em cada caso, os elementos formadores que costumam surgir na parte final dos compostos. Adotamos esse procedimento a fim de facilitar seu trabalho de consulta: ao encontrar determinado exemplo na relação dos radicais que costumam ser o primeiro elemento do composto, você poderá verificar mais rapidamente o valor do segundo elemento na relação dos radicais que costumam figurar no final dos compostos. Atente para o fato de que certos radicais costumam aparecer em determinadas posições nos compostos; nada os impede de surgir em posição diferente.
Alguns dos radicais que colocamos nas relações a seguir são considerados prefixos por alguns autores; outros estudiosos preferem chamá-los elementos de composição. Acreditamos que essas questões terminológicas são pouco importantes para você, que tem finalidades mais práticas. Observe que muitas palavras que fazem parte das suas aulas de Biologia, Química e Física podem ser encontradas nas relações abaixo; observe, principalmente, que o conhecimento do significado dos elementos que as constituem muitas vezes nos ajuda a compreender os conceitos e seres que denominam.

RADICAIS GREGOS

Elementos que normalmente surgem na parte inicial do composto
radical e significado - exemplos
acr-, acro- (alto, elevado)
acrópole, acrofobia, acrobata
aer-, aero- (ar)
aeródromo, aeronauta, aeróstato, aéreo
agro- (campo)
agrologia, agronomia, agrografia, agromania
al-, alo- (outro, diverso)
alopatia, alomorfia
andr-, andro- (homem, macho)
androceu, andrógino, andróide, andosperma
anemo- (vento)
anemógrafo, anemômetro
angel-, angelo- (mensageiro, anjo)
angelólatra, angelogia
ant-, anto- (flor)
antologia, antografia, antóide, antomania
antropo- (homem)
antropógrafo, antropologia, filantropo
aritm-, aritmo- (número)
aritmética, aritmologia, aritmomancia
arque-, arqueo- (primeiro, origem, antigo)
arquétipo, arquegônio, arqueografia, arqueologia, arqueozóico
aster-, astro- (estrela, astro)
asteróide, astrólogo, astronomia
auto- (próprio)
autocracia, autógrafo, autômato
bari-, baro- (peso)
barômetro, barítono, barisfera
biblio- (livro)
bibliografia, biblioteca, bibliófilo
bio- (vida)
biografia, biologia, macróbio, anfíbio
caco- (mau)
cacofonia, cacografia
cali- (belo)
califasia, caligrafia
cardi-, cardio- (coração)
cardiologia, cardiografia
cin-, cine-, cines- (movimento)
cinestesia, cinemática
core-, coreo- (dança)
coreografia, coreógrafo
cosmo- (mundo)
cosmógrafo, cosmologia
cript-, cripto- (escondido)
criptônimo, criptograma
cris-, criso- (ouro)
crisálida, crisâtemo
crom-, cromo- (cor)
cromossomo, cromogravura, cromoterapia
crono- (tempo)
cronologia, cronômetro, cronograma
datilo- (dedo)
datilografia, datiloscopia
demo- (povo)
demografia, datiloscopia
dinam-, dinamo- (força
dinamômetro, dinamite
eco- (casa)
ecologia, ecossistema, economia
eletro- (âmbar, eletricidade)
elétrico, eletrômetro
enter-, entero- (intestino)
enterite, enterogastrite
ergo- (trabalho)
ergonomia, ergometria
estere-, estereo- (sólido, fixo)
estereótipo, estereografia
estomat-, estomato- (boca, orifício)
estomatite, estomatoscópio
etno- (raça)
etnografia, etnologia
farmaco- (medicamento)
farmacologia, farmacopéia
filo- (amigo)
filósofo, filólogo
fisio- (natureza)
fisiologia, fisionomia
fono- (voz)
eufonia, fonologia
fos-, foto- (luz)
fósforo, fotofobia
gastr-, gastro- (estômago)
gastrite, gastrônomo
gen-, geno- (que gera)
genótipo, hidrogênio
geo- (terra)
geografia, geologia
ger-, gero- (velhice)
geriatria, gerontocracia
helio- (sol)
heliografia, helioscópio
hemi- (metade)
hemisfério, hemistíquio
hemo-, hemato- (sangue)
hemoglobina, hematócrito
hetero- (outro)
heterônimo, heterogêneo
hidro- (água)
hidrogênio, hidrografia
hier-, hiero- (sagrado)
hieróglifo, hierosolimita
hipo- (cavalo)
Hipódromo, hipopótamo
homo-, homeo- (semelhante)
homeopatia, homógrafo, homogêneo
icono- (imagem)
iconoclastia, iconolatria
ictio- (peixe)
ictiófago, ictiologia
iso- (igual)
isócrono, isósceles
ito- (pedra)
litografia, litogravura
macro- (grande)
macrocéfalo, macrocosmo
mega-, megalo- (grande)
megatério, megalomaníaco
melo- (canto)
melodia, melopéia
meso- (meio)
mesóclise, mesopotâmia
micro- (pequeno)
micróbio, microcéfalo, microscópio
miso- (que odeia)
misógino, misantropo
mito- (fábula)
mitologia, mitômano
necro- (morto)
necrópole, necrotério
neo- (novo)
neolatino, neologismo
neuro-, nevr- (nervo)
neurologia, nevralgia
odonto- (dente)
odontologia, odontalgia
ofi-, ofio- (cobra, serpente)
ofiologia, ofimancia
oftalmo- (olho)
oftalmologia, oftalmoscópio
onomato- (nome)
onomatologia, onomatopéia
ornit-, ornito- (ave)
ornitologia, ornitóide
oro- (montanha)
orogenia, orografia
oste-, osteo- (osso)
osteoporose, osteodermo
oxi- (ácido, agudo)
oxítona, oxígono, oxigênio
paleo- (antigo)
paleografia, paleontologia
pan- (todos, tudo)
panteísmo, pan-americano
pato- (doença, sentimento)
patologia, patogenético, patético
pedi-, pedo- (criança)
pediatria, pedologia
piro- (fogo)
pirólise, piromancia, pirotecnia
pluto- (riqueza)
plutomania, plutocracia
poli- (muito)
policromia, poliglota, polígrafo, polígono
potamo- (rio)
potamografia, potamologia
proto- (primeiro)
protótipo, protozoário
pseudo- (falso)
pseudônimo, pseudópode
psico- (alma, espírito)
psicologia, psicanálise
quiro- (mão)
quiromancia, quiróptero
rino- (nariz)
rinoceronte, rinoplastia
rizo- (raiz)
rizófilo, rizotônico
sider- (ferro)
siderólito, siderurgia
sismo- (abalo, tremor)
sismógrafo, sismologia
taqui- (rápido)
taquicardia, taquigrafia
tax-, taxi-, taxio- (ordem, arranjo)
taxiologia, taxidermia
tecno- (arte, ofício, indústria)
tecnologia, tecnocracia, tecnografia
tele- (longe)
telegrama, telefone, telepatia
teo- (deus)
teocracia, teólogo
term-, termo- (calor)
termômetro, isotérmico
tipo- (figura, marca)
tipografia, tipologia
topo- (lugar)
topografia, toponímia
xeno- (estrangeiro)
xenofobia, xenomania
xilo- (madeira)
xilógrafo, xilogravura
zoo- (animal)
zoógrafo, zoologia
NUMERAIS

radical e significado
exemplos

mon-, mono- (um)
monarca, monogamia
di- (dois)
dipetalo, dissílabo
tri- (três)
trilogia, trissílabo
tetra- (quatro)
tetrarca, tetraedro
pent-, penta- (cinco)
pentatlo, pentágono
hexa- (seis)
hexágono, hexâmetro
hepta- (sete)
heptágono, heptassílabo
octo- (oito)
octossílabo, octaedro
enea- (nove)
eneágono, eneassílabo
deca- (dez)
decaedro, decalitro
hendeca- (onze)
hendecassílabo, hendecaedro
dodeca- (doze)
dodecassílabo
icos- (vinte)
icosaedro, icoságono
hecto-, hecato- (cem)
hectoedro, hecatombe, hectômetro, hectograma
quilo- (mil)
quilograma, quilômetro
miria- (dez mil; inumerável)
miriâmetro, miríade, miriápode

ESTUDO DOS SUFIXOS

A leitura atenta dos exemplos referentes ao uso dos sufixos aumentativos e diminutivos deixa evidente que a dimensão física não é a única coisa com que eles se relacionam. É fácil notar que muitas vezes esses sufixos sugerem deformidade (como em beiçorra, cabeçorra), admiração (carrão), desprezo (asneirão, poestatro, artiguete), carinho (paizinho, pequenino), intensidade (alegrinho), ironia (safadinha) e vários outros matizes semânticos. No caso dos sufixos pertencentes ao último grupo apresentado, temos a formação de diminutivos eruditos — diretamente importados do latim —, os quais são muito usados na terminologia científica.

Sufixos Latinos
Função lexical
Exemplos

-ADA
Forma substantivos a partir de substantivos
Boiada, colherada, facada, laranjada, meninada, noitada, risada.
-AGEM
Forma substantivos a partir de substantivos
Aprendizagem, estiagem, ferragem, folhagem, malandragem, ladroagem, massagem.
-AL
Forma adjetivos e substantivos a partir de substantivos
Genial, mortal, pessoal; areal, arrozal, bananal, pantanal.
-ANO, -ÃO
Forma adjetivos de substantivos
Americano, republicano, serrano; ribeirão, comarcão, cristão, vilão.
-ÃO
Ampliado em -alhão, -arrão, -eirão, -zarrão, figura na formação de aumentativo
Casarão, grandalhão, chapeirão, homenzarrão, toleirão, santarrão.
-ARIA, -ERIA[1]
Forma substantivos de substantivos
Cavalaria, drogaria, feitiçaria, livraria, periferia, peixaria.
-ÁRIO, -EIRO, -A
Forma substantivos de substantivos
Boticário, campanário, estatuário; barbeiro, galinheiro, nevoeiro; cabeleira, cigarreira, pulseira.
-ATO, -ADO
Forma substantivos de substantivos
Baronato, sindicato, tribunato; arcebispado, apostolado, bacharelado, condado.
-DADE
Forma substantivos de adjetivos
Bondade, castidade, cristandade, crueldade, dignidade, felicidade, divindade.
-DOR, -TOR, -SOR
Forma substantivos de verbos
Acusador, armador, orador; instrutor, tradutor, escritor; ascensor, confessor, assessor.
-DURA, -TURA, -SURA
Forma substantivos de verbos
Assadura, ditadura, fechadura; assinatura, abertura, cobertura, escritura; clausura, mensura.
-EAR
Forma verbos de substantivos
Cartear, barbear, golpear, guerrear, rodear, pastorear, vozear.
-ECER
Forma verbos de substantivos
Amanhecer, amarelecer, favorecer, anoitecer, entardecer, escurecer, amadurecer.
-EDO
Forma substantivos de substantivos
Arvoredo, lajedo, olivedo, passaredo, rochedo, vinhedo.
-EJAR
Forma verbos de substantivos
Cortejar, gotejar, lacrimejar, manejar, velejar, voejar.
-ENSE, -ÊS
Forma adjetivos de substantivos
Ateniense, maranhense, cearense, parisiense. Cortês, montanhês, montês, português.
-EZ, -EZA
Forma substantivos de adjetivos
Altivez, estupidez, malvadez, sensatez; beleza, certeza, rudeza, tristeza.
-FICAR
Forma verbos de substantivos e de adjetivos
Exemplificar, petrificar, dignificar, falsificar, purificar, ramificar, clarificar.
-CIE, -ICE
Forma substantivos de adjetivos
Calvície, planície; criancice, doidice, meninice, tolice, velhice.
-IO
Forma substantivos de substantivos
Mulherio, poderio, rapazio, senhorio.
-ITAR, -INHAR
Forma verbos de substantivos
Saltitar, cuspinhar.
-IVO
Forma adjetivos de verbos
Afirmativo, comparativo, negativo, fugitivo, lucrativo, cansativo, pensativo.
-MENTO
Forma substantivos de verbos
Casamento, juramento, cerceamento, conhecimento, fingimento, juramento, pensamento.
-OSO
Forma adjetivos de substantivos
Cheiroso, famoso, gostoso, volumoso, orgulhoso, amoroso.
-TÓRIO[2], -DOURO
Forma substantivos de verbos
Dormitório, laboratório, oratório, purgatório; ancoradouro, bebedouro, matadouro.
-TUDE, -DÃO
Forma substantivos de adjetivos
Altitude, amplitude, latitude, longitude; certidão, escuridão, lassidão, vastidão.
-UDO
Forma adjetivos de substantivos
Beiçudo, bicudo, carnudo, cabeçudo, peludo, sisudo.
-URA
Forma substantivos de adjetivos
Amargura, brancura, alvura, loucura, brandura, ternura.
-VEL, -BIL[3]
Forma adjetivos de verbos
Amável, desejável, discutível, solúvel, suportável; flébil, ignóbil.

[1] Na linguagem brasileira de nossos dias, tem -eria nas seguintes palavras: bateria (importada do francês), correria, galeria, leiteria, loteria, (importada do italiano), parceria, sorveteria.
[2] O sufixo erudito -tório ainda forma adjetivos: divinatório, satisfatório, notório, transitório.
[3] Formas literárias em -bil (terríbil, implacábil, incansábil, invisíbil, etc.) foram muito usadas por escritores de outras épocas, como Camões, em Os Lusíadas. Ainda hoje figuram tais formas nos superlativos eruditos (amabilíssimo, terribilíssimo) e nos substantivos abstratos derivados de muitos adjetivos (amabilidade, volubilidade).
Sufixos Gregos

-IA — astronomia, filosofia, geometria; energia, eufonia, profecia.
-ISMO — aforismo, cataclismo, comunismo, jornalismo.
-ISTA — catequista, evangelista, modernista, nortista, socialista.
-ITA — eremita, jesuíta, ismaelita, selenita.
-ITE — bronquite, colite, dinamite, renite.
-IZ(AR)[1] — batizar, catequizar, realizar, rivalizar, suavizar.
-OSE — esclerose, osteose, tuberculose.
-TÉRIO — batistério, cemitério, necrotério.

Sufixos de outras procedências

1) Ibéricos
-EGO — borrego, labrego, pelego, galego.
-EJO — andejo, animalejo, lugarejo, quintalejo.
-ITO(A) — cabrita, casita, Anita.
-ORRA — cabeçorra, machorra, manzorra.

2) Italianos
-ESCO — dantesco, gigantesco, parentesco, pitoresco.

3) Germânicos
-ARDO[2] — felizardo, moscardo.
-ENGO — mulherengo, realengo, solarengo, verdorengo.

4) Tupi
-RANA — sagarana, caferana.

5) De origem desconhecida
-AMA — dinheirama, mourama.
-ANCO(A) — barranco, pelanca, potranca.
-ASCO(A) — pardavasco, verdasca, nevasca.
-EBRE — casebre.
-ECO(A) — jornaleco, livreco, padreco, soneca.
-ICO — burrico.
-OTE — filhote, meninote, serrote, velhote.

[1] Não confundir com os verbos cujo radical termina em -iz (ajuizar, de juiz; enraizar, de raiz), ou -is (avisar, de aviso; alisar, de liso; encamisar, de camisa).
[2] Aparece em alguns nomes próprios: Bernardo, Leonardo, Ricardo.

ESTUDO DOS PREFIXOS

Já sabemos que os prefixos são morfemas que se colocam antes dos radicais basicamente a fim de modificar-lhes o sentido; raramente esses morfemas produzem mudanças de classe gramatical. O conhecimento dos prefixos é um recurso para aprimorar sua capacidade de leitura e de produção de textos, pois é uma forma econômica de ampliação de vocabulário.

Os principais prefixos da língua portuguesa são de origem latina. Na relação que se segue, colocamos as diversas formas que esses prefixos costumam assumir, o tipo de modificação de significado que introduzem no radical e vários exemplos. Muitos desses prefixos originaram-se de preposições e advérbios da língua portuguesa. Leia a relação com cuidado, concentrando-se principalmente nos exemplos:

Prefixos de origem latina
prefixo e significado
exemplos
a-, ab-, abs- (separação, afastamento, privação)
abdicar, abjurar, abster, abstrair, ab-rogar, absolver, absorver, abuso, abusar, amovível, abster, aversão.
a-, ad- (aproximação, direção, aumento, transformação)
abeirar, achegar, abraçar, aproveitar, amadurecer, adiantar, avivar, adjunto, administrar, admirar, adventício, assimilar.
além- (para o lado de lá, do lado de lá)
além-túmulo, além-mar, além-mundo.
ante- (anterioridade no espaço ou no tempo)
antebraço, antemuro, antepasto, ante-sala, antevéspera, antedata, antegozar, antepor, anteontem.
aquém- (para o lado de cá, do lado de cá)
aquém-mar, aquém-fronteiras.
bem-, bem- (de forma agradável, positiva ou intensa)
bem-aventurado, bem-vindo, benfeitor, benquisto, bem-acabado, bem-apanhado, bem-apessoado, bem-nascido, bem-quere, bem-visto.
circum-, circum- (ao redor de, em torno de)
circuncentro, circunscrever, circunvizinhança, circunvalar, circunvagar.
cis- (posição aquém, do lado de cá)
cisandino, cisplatino, cisalpino, cislunar, cispadano.
co-, com- (contigüidade, companhia, agrupamento)
Coabitar, coadjuvante, co-administração, coadquirir, co-aluno, condiscípulo, co-arrendamento, combater, correligionário, conjurar, consoante, confluência, compor, cooperar, corrobar, conviver, co-irmão, co-herdeiro.
Contra- (oposição, ação conjunta, proximidade)
Contra-atacar, contra-argumento, contradizer, contrapor, contraprova, contrabalancar, contra-cheque, contracultura, contra-exemplo, contracapa, contracanto, contramestre.
de- (movimento de cima para baixo)
decrescer, decompor, depor, depender, decapitar, deliberar, decair.
des- (separação, ação contrária, negação, privação)
despedaçar, desfazer, desleixar, desumano, desamor, desventura, desintegrar, desigual, desconforme, desobedecer, desmatar, desenganar, desunião, descaroçar, desfolhar. Às vezes, serve apenas para reforço: desafastar, desinfeliz, desinqueto.
dis-, di- (separação, movimento para diversos lados, negação)
difícil, dissidente, dilacerar, dirimir, disseminar, distender, disforme, dissabor, divagar, difundir.
e-, es-, ex- (movimento para fora, separação, transformação)
emigrar, evadir, expor, exportar, exprimir, expatriar, extrair, esquentar, esfriar, esburacar; ex-tuberculoso, ex-presidente, ex-ministro, ex-namorada.
en-, em-, i-, in-, im- (posição interior, movimento para dentro)
enraizar, enterrar, embarcar, embeber, imigrar, irromper, importar, importação, ingerir, inocular.
entre-, inter- (posição intermediária, reciprocidade)
entreabrir, entre choque, entrelaçar, entrevista, entretela, entrever, interação, intercâmbio, intervir, interromper, intercalar.
extra- (posição exterior, fora de)
extraconjugal, extrajudicial, extra-oficial, extraordinário, extranumerário, extraterrestre, extravasar, extraviar
i-, in- (negação, privação)
imoderado, inalterado, ilegal, ilegítimo, irresoluto, irrestrito, incômodo, inútil, incapaz, impuro, impróprio.
intra- (posição interior)
intrapulmonar, intravenoso, intra-ocular.
intro- (movimento para dentro)
introduz, intrometer, intrometido, introverter, introjeção, introspecção.
justa- (posição ao lado)
justapor, justaposição, justalinear, justamarítimo.
mal- (de forma irregular, desagradável ou escassa)
mal-humorado, mal-educado, mal-arrumado, mal-assombrado, malfeito, mal-assado, mal-aventurança, malcriado.
ob-, o- (posição em frente, diante, oposição)
objeto, obstar, obstáculo, obstruir, obstrução, opor, oposição.
per- (movimento através)
perpassar, percorrer, percurso, perfurar, perseguir, perdurar.
pos-, pós- (posterioridade, posição posterior)
posfácio, pospor, posposição, posponto, pós-escrito, pós-diluviano, pós-graduação, pós-eleitoral, pós-simbolismo, pós-verbal.
pre-, pré- (anterioridade, antecedência)
Premeditar, preestabelecer, predizer, predispor, predisposição, prever, previsão, previdente, pré-história, pré-carnavalesco, pré-adolescente, pré-amplificador, pré-ajustar.
pro-, pró- (movimento para a frente, a favor de)
promover, propelir, progredir, progresso, proeminente, proclamar, prosseguir, pró-americano, pró-socialista, pró-britãnico, pró-anistia.
re- (movimento para trás, repetição)
refluir, reagir, repugnar, reassumir, reatar, reaver, reeditar, recomeçar, reedificar, reorganizar, reorganização, reviver, renascer, reanimar.
retro- (movimento para trás)
retroação, retrocesso, retroceder, retrogradar, retroativo, retropropulsão, retrógrado, retrospectivo, retrovisor.
semi- (metade de, quase, que faz o papel de)
semicírculo, semibreve, semicerrado, semicondutor, semiconsciente, semi-escravidão, semi-analfabeto, semivogal, semimorto.
soto-, sota- (debaixo, posição inferior)
sotopor, sotavento, sota-proa, sota-voga, soto-soberania.
sub-, su-, sob-, so- (movimento de baixo para cima, inferioridade, quase)
Sobraçar, soerguer, soterrar, sujeitar, subjugar, submeter, subalimentado, sudesenvolvimento, subliteratura, subumano, submarino, subverter, subdelegado, suspender, suster.
sobre-, super-, supra- (posição acima ou em cima, excesso, superioridade)
Sobrepor, superpor, sobrescrito, sobrescrever, sobrevir, supranumerário, sobredito, supradito, supersensível, super-homem, supermercado, superdotado, supercivilização.
tras-, tres-, trans- (movimento ou posição para além de; através)
traspassar ou transpassar, trasbordar ou transbordar, tresandar, tresvariar, transatlântico, transalpino, transandino, transcoar, transplantar, transiberiana.
ultra- (posição além de; em excesso)
ultrapassar, ultramar, ultravioleta, ultramicroscópico, ultraconservador, ultra-romãntico, ultra-som, ultra-sofisticado.
vice- (em lugar de, em posição imediatamente inferior)
vice-presidente, vice-diretor, vice-cônsul, vice-almirante, vice-rei, vice-campeão, vice-artilheiro.

Na lista, encontramos prefixos cuja freqüência de uso é bastante variada. Alguns têm sido pouco usados na língua atual (como, por exemplo, justa-) enquanto outros são extremamente produtivos (como contra-, des-, in-, etc.).
Também são usados prefixos de origem grega em nossa língua, principalmente para a formação de palavras eruditas, que são muito úteis na nomenclatura científica. Observe esses prefixos na relação a seguir:


Prefixos gregos
prefixo e significado
exemplos
an-, a- (privação, negação)
Anarquia, anônimo, ateu, acéfalo, amoral, anestesia, afônico, anemia.
an(a)- (movimento de baixo para cima, movimento inverso, repetição, afastamento, intensidade)
Anacronismo, anagrama, análise, anabatista, anáfora, analogia, anatomia.
anf(i)- de um e de outro lado, ao redor)
Anfiteatro, anfíbio, anfípode.
ant(i)- (ação contrária, oposição)
Antagonista, antítese, antiaéreo, antípoda, antídoto, antipatia, anticonstitucional, anticorpo, antifebril, antimonárquico, anti-social.
ap(o)- (afastamento, separação)
Apóstata, apogeu, apóstolo.
arc(a)-, arce-, arque-, arqui- (superioridade, primazia)
Arcanjo, arquiduque, arqüétipo, arcebispo, arquimilionário.
cata- (movimento de cima para baixo, oposição, em regressão)
Cataclismo, catacumba, catarro, catástrofe, catadupa, catacrese, catálise, catarata.
di(a)- (através, por meio de, separação)
Diagnóstico, diálogo, dialeto, diâmetro, diáfano.
dis- (mau estado, dificuldade)
Dispnéia, disenteria, dislalia, dispepsia.
ec-, ex- (movimento para fora)
eclipse, exantema, êxodo.
en-, e-, em- (posição interior, dentro)
encéfalo, emplasto, elipse, embrião
end(o)- (movimento para dentro, posição interior)
endocarpo, endotérmico, endoscópio.
ep(i)- (posição superior, sobre, movimento para, posterioridade)
epiderme, epígrafe, epílogo, epicarpo, epidemia.
eu-, ev- (bem, bom)
eufonia, eugenia, eufemismo, euforia, eutanásia, evangelho, evônimo.
hiper- (posição superior, excesso, além)
hipérbole, hipertensão, hipercrítico, hiperdesenvolvimento, hiperestesia, hipoermercado, hipermetropia, hipertrofia, hipersônico.
hip(o)- (posição inferior, escassez)
hipodérmico, hipótese, hipocalórico, hipogeu, hipoglicemia, hipotensão, hipoteca.
met(a)- (mudança, sucessão, posterioridade, além)
metáfora, metamorfose, metafísica, metonímia, metacarpo, metátese, metempsicose.
par(a)- (perto, ao lado de, elemento acessório)
paradoxo, paralelo, parágrafo, paramilitar, parábola, parâmetro.
peri- (movimento para diante, posição em frente ou anterior)
perímetro, perífrase, periferia, período, perianto, pericarpo.
pro- (movimento para diante, posição em frente ou anterior)
programa, prólogo, prognóstico, pródromo, próclise.
sin-, sim- (ação conjunta, companhia, reunião, simultaneidade)
sinestesia, sincronia, síntese, sinônimo, sinfonia, simpatia, sílaba, sintaxe, sistema.

Como você percebeu, a maior parte das aplicações desses prefixos se liga à nomenclatura científica. Observe, no entanto, que há alguns entre eles que são muito empregados na linguagem cotidiana, principalmente anti- e hiper-. Anti- é, particularmente, um prefixo muito empregado na linguagem jornalística, em que surge em palavras ligadas à política, como antigetulista, antichaguismo e outras, muitas delas de vida efêmera.
O dinamismo da língua se reflete também no campo dos prefixos, que passam por modificações de forma e sentido. Além disso, a língua tende a criar novos prefixos, utilizando muitas vezes preposições e advérbios. É o que você pode perceber na relação a seguir:

prefixo e significado
exemplos
sem- (falta, privação, ausência)
sem-amor, sem-terra, sem-teto, sem-fim, sem-vergonha, sem-família.
quase- (perto, aproximadamente, por pouco, pouco menos)
quase-delito, quase-equilíbrio, quase-posse, quase-suicida
não- (negação por exclusão)
Não-alinhado, não-euclidiano, não-violência, não-engajamento, não-essencial, não-ficção, não-metal, não-participante. Note, por exemplo, que não-socialista não é o mesmo que anti-socialista.

É importante perceber que os prefixos nos oferecem uma forma sintética de expressão. Veja, por exemplo, a economia verbal proporcionada pelo prefixo sem- numa frase como “O secretário não atendeu às reivindicações dos sem-terra”. Em que sem-terra faz as vezes de uma estrutura como "aqueles que não possuem terras".
O mesmo tipo de efeito se obtém com o prefixo anti- numa frase como “Foi grande a participação popular nas manifestações anti-racismo”. Em que anti-racismo substitui uma expressão como "contrárias ao racismo", "que se opõem ao racismo". Reflita sobre frases semelhantes com prefixos como não-, quase-, contra-, entre- e outros e perceba que você tem um poderoso instrumento de síntese com que lidar.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA REDAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA OFICIAL

A Impessoalidade

A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: a) alguém que comunique, b) algo a ser comunicado, e c) alguém que receba essa comunicação. No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa comunicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União.

Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais decorre:

a) da ausência de impressões individuais de quem comunica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Chefe de determinada Seção, é sempre em nome do Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padronização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes setores da Administração guardem entre si certa uniformidade;

b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma homogênea e impessoal;

c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o universo temático das comunicações oficiais se restringe a questões que dizem respeito ao interesse público, é natural que não cabe qualquer tom particular ou pessoal.

Desta forma, não há lugar na redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta da interferência da individualidade que a elabora.

A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impessoalidade.

A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais

A necessidade de empregar determinado nível de linguagem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do próprio caráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empregada a linguagem adequada. O mesmo se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com clareza e objetividade.

As comunicações que partem dos órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há dúvida que um texto marcado por expressões de circulação restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem sua compreensão dificultada.

Ressalte-se que há necessariamente uma distância entre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de costumes, e pode eventualmente contar com outros elementos que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lentamente as transformações, tem maior vocação para a permanência, e vale-se apenas de si mesma para comunicar.

A língua escrita, como a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer de determinado padrão de linguagem que incorpore expressões extremamente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico, não se há de estranhar a presença do vocabulário técnico correspondente. Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a empregamos.

O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, eles requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão culto é aquele em que a) se observam as regras da gramática formal, e b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias lingüísticas, permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os cidadãos.

Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios da língua literária.

Pode-se concluir, então, que não existe propriamente um “padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das formas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se consagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre sua compreensão limitada.

A linguagem técnica deve ser empregada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos.

Outras questões sobre a linguagem, como o emprego de neologismo e estrangeirismo, são tratadas em detalhe em Semântica.

Formalidade e Padronização

As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível; mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.

A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Manual, exige que se atente para todas as características da redação oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos.

A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a correta diagramação do texto são indispensáveis para a padronização.

Concisão e Clareza

A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de idéias.

O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao princípio de economia lingüística, à mencionada fórmula de empregar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não se deve de forma alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já foi dito.

Procure perceber certa hierarquia de idéias que existe em todo texto de alguma complexidade: idéias fundamentais e idéias secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-las; mas existem também idéias secundárias que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas.

A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, conforme já sublinhado na introdução deste capítulo. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor. No entanto a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das demais características da redação oficial. Para ela concorrem:

a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto;

b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação restrita, como a gíria e o jargão;

c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a imprescindível uniformidade dos textos;

d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos lingüísticos que nada lhe acrescentam.

É pela correta observação dessas características que se redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável releitura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros e de erros gramaticais provém principalmente da falta da releitura que torna possível sua correção.

Na revisão de um expediente, deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu destinatário. O que nos parece óbvio pode ser desconhecido por terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em decorrência de nossa experiência profissional muitas vezes faz com que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos técnicos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos que não possam ser dispensados.

A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comunicações quase sempre compromete sua clareza. Não se deve proceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. “Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
Por fim, como exemplo de texto obscuro, que deve ser evitado em todas as comunicações oficiais, transcrevemos a seguir um pitoresco quadro, constante de obra de Adriano da Gama Kury
[1], a partir do qual podem ser feitas inúmeras frases, combinando-se as expressões das várias colunas em qualquer ordem, com uma característica comum: nenhuma delas tem sentido!

[1] KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. p.18 - 19. Segundo o autor, o quadro consta da obra de Cesare Marchi Impariamo Italiano (“Aprendamos o Italiano”) Milão, Rizzoli Ed., 1984, e teria sido elaborado por dois professores universitários italianos no estudo “Prontuário de frases para todos os usos para preencher o vazio de nada”.

sábado, 17 de maio de 2008

SOBRE PARÁGRAFOS

AS 18 FORMAS MAIS USADAS DE ELABORAÇÃO DE PARÁGRAFOS

Listamos aqui dezoito formas de começar um texto. Elas vão das mais simples às mais complexas.

1. Uma declaração (tema: a liberação da maconha)

É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.
Alberto Corazza, Isto é, 20 dez. 1995.

A declaração é a forma mais comum de começar um texto. Procure fazer uma declaração forte, capaz de surpreender o leitor.

2. Definição (tema: o mito)

O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana.
Aranha, Maria Lúcia de Arruda & Martins, Maria Helena
Pires. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna. 1992. p. 62.

A definição é uma forma simples e muito usada em parágrafo-chave, sobretudo em textos dissertativos. Pode ocupar só a primeira frase ou todo o primeiro parágrafo.

3. Divisão (tema: exclusão social)

Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas nesta Folha mostram que o combate à marginalidade social em Nova York vem contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.
Folha de S. Paulo, 17 dez. 1996.

Ao dizer que há duas convicções errôneas, fica logo clara a direção que o parágrafo vai tomar. O autor terá de explicitá-las na frase seguinte.

4. Oposição (tema: a educação no Brasil)

De um lado, professores mal pagos, desestimulados, esquecidos pelo governo. De outro, gastos excessivos com computadores, antenas parabólicas, aparelhos de videocassete. É este o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil.

As duas primeiras frases criam uma oposição (de um lado/de outro) que estabelecerá o ruma da argumentação.

Também se pode criar uma oposição dentro da frase, como neste exemplo:
Vários motivos me levaram a este livro. Dois se destacam pelo grau de envolvimento: raiva e esperança. Explico-me: raiva por ver o quanto a cultura ainda é vista como artigo supérfluo em nossa terra; esperança por observar quantos movimentos culturais têm acontecido em nossa história, e quase sempre como forma de resistência e/ou transformação. (...)
Feijó, Martin César. O que é política cultural. São Paulo, Brasiliense, 1985.p.7.

O autor estabelece a oposição e logo depois explica os termos que a compõem.

5. Alusão histórica (tema: globalização)

Após a queda do Muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos leste-oeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada de competição.

O conhecimento dos principais fatos históricos ajuda a iniciar um texto. O leitor é situado no tempo e pode ter uma melhor dimensão do problema.

6. Uma pergunta (tema: a saúde no Brasil)

Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. A cada ano, somos lesados por novos impostos para alimentar um sistema que só parece piorar.

A pergunta não é respondida de imediato. Ela serve para despertar a atenção do leitor para o tema e será respondida ao longo da argumentação.

7. Uma frase nominal seguida de explicação (tema: a educação no Brasil)

Uma tragédia. Essa é a conclusão da própria Secretaria de Avaliação e Informação Educacional do Ministério da Educação e Cultura sobre o desempenho dos alunos do 3º ano do 2º grau submetidos ao Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que ainda avaliou estudantes da 4ª série e da 8ª série do 1º grau em todas as regiões do território nacional.
Folha de S. Paulo, 27 nov. 1996.

A palavra tragédia é explicada logo depois, retomada por essa é a conclusão.

8. Adjetivação (tema: a educação no Brasil)

Equivocada e pouco racional. Esta é a verdadeira adjetivação para a política educacional do governo.
Anderson Sanches, Infocus, n.5, ano 1, out. 1966. p.2

A adjetivação inicial será a base para desenvolver o tema. O autor dirá, nos parágrafos seguintes, por que acha a política educacional do governo equivocada e pouco racional.

9. Citação (tema: política demográfica)

“As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora.” O comentário, do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações do Primeiro Mundo.
Di Franco, Carlos Alberto. Jornalismo, ética e qualidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1995. p. 73

A citação inicial facilita a continuidade do texto, pois ela é retomada pela palavra comentário da segunda frase.

10. Citação de forma indireta (tema: consumismo)

Para Marx a religião é o ópio do povo. Raymond Aron deu o troco: o marxismo é o ópio dos intelectuais. Mas nos Estados Unidos o ópio do povo é mesmo ir às compras. Como as modas americanas são contagiosas, é bom ver de que se trata.
Cláudio de Moura e Castro, Veja, 13 nov. 1996.

Esse recurso deve ser usado quando não sabemos textualmente a citação, É melhor citar de forma indireta que de forma errada.

11. Exposição de ponto de vista oposto (tema: o provão)

O ministro da Educação se esforça para convencer de que o provão é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino superior. Para isso, vem ocupando generosos espaços na mídia e fazendo milionária campanha publicitária, ensinando como gastar mal o dinheiro que deveria ser investido na educação.
Orlando Silva Júnior e Eder Roberto Silva, Folha de S. Paulo, 5 nov. 1996.

Ao começar o texto com a opinião contrária, delineia-se, de imediato, qual a posição dos autores. Seu objetivo será refutar os argumentos do opositor, numa espécie de contra-argumentação.

12. Comparação (tema: reforma agrária)

O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças. Como na época da abolição da escravidão existiam elementos favoráveis e contrários a ela, também hoje há os que são a favor e os que são contra a implantação da reforma agrária no Brasil.
Oliveira, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. São Paulo, Ática, 1991.p.101

Para introduzir o tema da reforma agrária, o autor comparou a sociedade de hoje com a do final do século XIX, mostrando a semelhança de comportamento entre elas.

13. Retomada de um provérbio (tema: mídia e tecnologia)

O corriqueiro adágio de que o pior cego é o que não quer ver se aplica com perfeição na análise sobre o atual estágio da mídia: desconhecer ou tentar ignorar os incríveis avanços tecnológicos de nossos dias, e supor que eles não terão reflexos profundos no futuro dos jornais é simplesmente impossível.
Jayme Sirotsky, Folha de S. Paulo, 5 dez.1995

Sempre que você usar esse recurso, não escreva o provérbio simplesmente. Faça um comentário sobre ele para quebrar a idéia de lugar-comum que todos eles trazem. No exemplo acima, o autor diz “o corriqueiro adágio” e assim demonstra que está consciente de que está partindo de algo por demais conhecido.

14. Ilustração (tema: aborto)

O Jornal do Comércio, de Manaus, publicou um anúncio em que uma jovem de dezoito anos, já mãe de duas filhas, dizia estar grávida mas não queria a criança. Ela a entregaria a quem se dispusesse a pagar sua ligação de trompas. Preferia dar o filho a ter que fazer um aborto. O tema é tabu no Brasil. (...)
Antonio Carlos Viana, O Quê, edição de 16 a 22 jul. 1994.

Você pode começar narrando um fato para ilustrar o tema. Veja que a coesão do parágrafo seguinte se faz de forma fácil: a palavra tema retoma a questão que vai ser discutida.

15. Uma seqüência de frases nominais (frases sem verbo) (tema: a impunidade no Brasil)

Desabamento de shopping em Osasco. Morte de velhinhos numa clínica do Rio. Meia centena de mortes numa clínica de hemodiálise em Caruaru. Chacina de sem-terra em Eldorado dos Carajás. Muitos meses já se passaram e esses fatos continuam impunes.

O que se deve observar nesse tipo de introdução são os paralelismos que dão equilíbrio às diversas frases nominais. A estrutura de cada frase deve ser semelhante.

16. Alusão a um romance, um conto, um poema, um filme (tema: a intolerância religiosa)

Quem assistiu ao filme A rainha Margot, com a deslumbrante Isabelle Adjani, ainda deve ter vivos na memória. Na madrugada de 24 de agosto de 1572, as tropas do rei de França, sob ordens de Catarina de Médicis, a rainha-mãe e verdadeira governante, desencadearam uma das mais tenebrosas carnificinas da História. (...) Desse horror a História do Brasil está praticamente livre. (...)
Veja, 25 out. 1995.

O resumo do filme A rainha Margot serve de introdução para desenvolver o tema da intolerância religiosa. A coesão com o segundo parágrafo dá-se através da palavra horror, que sintetiza o enredo do filme contado no parágrafo inicial.

17. Descrição de um fato de forma cinematográfica (tema: violência urbana)

Madrugada de 11 de agosto. Moema, bairro paulistano de classe média. Choperia Bodega – um bar da moda, freqüentado por jovens bem-nascidos. Um assalto. Cinco ladrões. Todos truculentos. Duas pessoas mortas: Adriana Ciola, 23, e José Renato Tahan, 25. Ela, estudante. Ele, dentista.
Josias de Souza, Folha de S. Paulo, 30 set. 1996.

O parágrafo é desenvolvido por flashs, o que dá agilidade ao texto e prende a atenção do leitor. Depois desses dois parágrafos, o autor fala da origem do movimento “Reage São Paulo”.

18. Omissão de dados identificadores (tema: ética)

Mas o que significa, afinal, esta palavra, que virou bandeira da juventude? Com certeza não é algo que se refira somente à política ou às grandes decisões do Brasil e do mundo. Segundo Tarcísio Padilha, ética é um estudo filosófico da ação e da conduta humanas cujos valores provêm da própria natureza do homem e se adaptam às mudanças da histórias e da sociedade.
O Globo. 13 set. 1992

As duas primeiras frases criam no leitor certa expectativa em relação ao tema que se mantém em suspenso até a terceira frase. Pode-se também construir todo o primeiro parágrafo omitindo o tema, esclarecendo-o apenas no parágrafo seguinte.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Como se faz para ler sem parar e entender tudo?

Existem algumas qualidades de linguagem que costumam ser apontadas como importantes para que o texto seja considerado bom. Assim, um texto claro e fluente é, em princípio, um texto com qualidades. Mas, como tudo o que diz respeito à linguagem, não podemos generalizar. Há inúmeros textos consagrados e culturalmente importantes em suas áreas que não têm essas qualidades. Existem situações em que o autor não tem necessidade ou não deseja ser claro e fluente. A variável é quase sempre o leitor. É possível, ainda, que o autor não seja um bom escritor, mas que seu texto traga informações tão importantes de conteúdo que não se leve muito em conta sua falta de habilidade para redigir. As considerações sobre linguagem, mesmo sobre aspectos consagrados, são sempre muito relativas e discutíveis. Por isso, apelamos novamente ao bom senso.



1. Clareza e fluência



Um texto claro é aquele que é compreensível em uma primeira leitura. Fluência é a qualidade que permite a leitura ininterrupta, sem prejuízo da compreensão e sem necessidade de releitura. Os textos jornalísticos e os dos livros didáticos são exemplos de textos geralmente claros, fluentes e adequados aos seus leitores.



2. Respeito ao leitor



Qualquer texto deve respeitar o seu leitor. E há várias formas de se fazer isso. Clareza e fluência são qualidades básicas. Mas, se levássemos isso sempre ao pé da letra, somente escreveríamos textos com períodos simples e curtos, como nos livros infantis. Isso seria um desrespeito à capacidade de compreensão de leitores mais experientes e sofisticados.



3. Saiba quem é o seu leitor



Pensar na linguagem nos remete para a questão fundamental de saber quem é o nosso leitor. Ela também nos obriga a refletir em outros aspectos igualmente importantes, que devem ser respondidos: O que desejamos com o nosso texto? Queremos que o leitor pense, releia e discuta o texto? É necessário que o leitor aprenda rapidamente o essencial? Qual é, afinal, a função de nosso texto?



4. Como ordenar as idéias



Se queremos dar clareza e fluência ao nosso texto, devemos respeitar o princípio de que a ordenação normal dos termos da oração é a mais clara. Mas essa não é uma regra indiscutível.Os termos integrantes da oração são sujeito, predicado e complementos. Portanto, em princípio, é mais claro dizer: Zé anda de bicicleta. Em vez de: De bicicleta Zé anda.
Também é mais clara a ordenação normal dos períodos compostos — oração principal, orações coordenadas e/ou subordinadas.
É mais claro: Zé anda de bicicleta, mesmo que faça frio. Em vez de: Mesmo que faça frio, Zé anda de bicicleta. Ou Zé, mesmo que faça frio, anda de bicicleta.



5. Idéias intercaladas



De um modo geral, sempre que quebramos a ordem direta de um período, intercalando idéias entre os termos integrantes da oração ou entre orações de um período, prejudicamos a fluência do texto.



6. Períodos longos



Os professores costumam ensinar que períodos longos prejudicam a clareza e a fluência. O problema não é exatamente o tamanho do período e sim a organização das idéias. Se estiverem intercaladas em excesso, o texto pode se tornar cansativo, mas não será, necessariamente, obscuro. Porém, não é bom redigir períodos muito longos. Veja o exemplo seguinte:

“Apesar disso, se compararmos essa crise na educação com as experiências políticas de outros países no século XX, com a agitação revolucionária que se sucedeu à Primeira Guerra Mundial, com os campos de concentração e de extermínio, ou mesmo com o profundo mal-estar que, não obstante as aparências contrárias de propriedade, se espalhou por toda a Europa a partir do término da Segunda Guerra Mundial, é um tanto difícil dar a uma crise na educação a seriedade devida.”

Apesar disso, é um tanto difícil dar a uma crise na educação a seriedade devida, se compararmos essa crise na educação com as experiências políticas de outros países no século XX, com a agitação revolucionária que se sucedeu à Primeira Guerra Mundial, com os campos de concentração e de extermínio, ou mesmo com o profundo mal-estar que, não obstante as aparências contrárias de propriedade, se espalhou por toda a Europa a partir do término da Segunda Guerra Mundial.”


Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro



6. Reordenando períodos longos



O problema do primeiro texto à direita é que a oração principal — "...é um tanto difícil..." — está no final. Quando lemos seu início — "Apesar disso..." —, esperamos uma continuidade lógica. É como se nossa mente perguntasse "Apesar disso o quê?". Mas a resposta a essa suposta pergunta só vem no final. A impressão é de que metade da nossa mente fica esperando a resposta, enquanto a outra metade continua lendo o restante do período. Quando finalmente o "apesar disso" se junta ao "é um tanto difícil", já lemos o restante do período pela metade. Ficamos então com a sensação de que não entendemos direito. Assim, um problema de estrutura de idéias gera outros de clareza e fluência. Reordenando o período, ele ficaria como no segundo texto.



7. Avalie as possibilidades



As orientações sobre linguagem não são regras infalíveis. Muitas vezes encontramos exemplos que as contradizem. O melhor é procurar saber exatamente quem será nosso leitor e adequar a linguagem a ele. Não se esqueça de que é sempre melhor não criar entraves para a compreensão de seu texto.

TRABALHANDO

COM RESUMOS


O ato de resumir textos objetiva instrumentalizá-lo a fim de que você possa, ao ler, apreender aquilo que realmente é essencial.
Ao resumir o texto, você vai expor, em poucas palavras, o que o autor expressou de uma forma mais longa. Assim, deve saber discernir do secundário e relacionar as idéias entre si, de uma forma sintética.
Aprendendo a resumir, você terá mais facilidade ao estudar as diferentes disciplinas, uma vez que saberá encontrar num texto as idéias mais relevantes.
Alguns passos devem ser observados para que o resultado final seja satisfatório:

· uma primeira leitura atenta é indispensável para que você perceba o assunto em questão;

· outras leituras devem ser feitas (tantas quantas forem necessárias para selecionar as idéias principais do texto); é importante anotar o que for mais relevante;

· todo texto possui palavras-chaves que encerram as idéias fundamentais; essas idéias devem ser grifadas para que possam servir de ponto de partida para o resumo;

· deve ser feito resumo de cada parágrafo; é importante fazer dois resumos: um do parágrafo e outro do próprio resumo para que as idéias sejam bem sintetizadas;

· durante todo o processo, a leitura atenta deve ser feita para verificar se está havendo coerência e seqüência lógica entre os parágrafos resumidos, para fazer os ajustes necessários;

O resumo não é comentário crítico; você deve ater-se às idéias do autor, sem emitir sua opinião, por isso as idéias do resumo devem ser fiéis às expostas no texto original.