segunda-feira, 12 de maio de 2008

Como se faz para ler sem parar e entender tudo?

Existem algumas qualidades de linguagem que costumam ser apontadas como importantes para que o texto seja considerado bom. Assim, um texto claro e fluente é, em princípio, um texto com qualidades. Mas, como tudo o que diz respeito à linguagem, não podemos generalizar. Há inúmeros textos consagrados e culturalmente importantes em suas áreas que não têm essas qualidades. Existem situações em que o autor não tem necessidade ou não deseja ser claro e fluente. A variável é quase sempre o leitor. É possível, ainda, que o autor não seja um bom escritor, mas que seu texto traga informações tão importantes de conteúdo que não se leve muito em conta sua falta de habilidade para redigir. As considerações sobre linguagem, mesmo sobre aspectos consagrados, são sempre muito relativas e discutíveis. Por isso, apelamos novamente ao bom senso.



1. Clareza e fluência



Um texto claro é aquele que é compreensível em uma primeira leitura. Fluência é a qualidade que permite a leitura ininterrupta, sem prejuízo da compreensão e sem necessidade de releitura. Os textos jornalísticos e os dos livros didáticos são exemplos de textos geralmente claros, fluentes e adequados aos seus leitores.



2. Respeito ao leitor



Qualquer texto deve respeitar o seu leitor. E há várias formas de se fazer isso. Clareza e fluência são qualidades básicas. Mas, se levássemos isso sempre ao pé da letra, somente escreveríamos textos com períodos simples e curtos, como nos livros infantis. Isso seria um desrespeito à capacidade de compreensão de leitores mais experientes e sofisticados.



3. Saiba quem é o seu leitor



Pensar na linguagem nos remete para a questão fundamental de saber quem é o nosso leitor. Ela também nos obriga a refletir em outros aspectos igualmente importantes, que devem ser respondidos: O que desejamos com o nosso texto? Queremos que o leitor pense, releia e discuta o texto? É necessário que o leitor aprenda rapidamente o essencial? Qual é, afinal, a função de nosso texto?



4. Como ordenar as idéias



Se queremos dar clareza e fluência ao nosso texto, devemos respeitar o princípio de que a ordenação normal dos termos da oração é a mais clara. Mas essa não é uma regra indiscutível.Os termos integrantes da oração são sujeito, predicado e complementos. Portanto, em princípio, é mais claro dizer: Zé anda de bicicleta. Em vez de: De bicicleta Zé anda.
Também é mais clara a ordenação normal dos períodos compostos — oração principal, orações coordenadas e/ou subordinadas.
É mais claro: Zé anda de bicicleta, mesmo que faça frio. Em vez de: Mesmo que faça frio, Zé anda de bicicleta. Ou Zé, mesmo que faça frio, anda de bicicleta.



5. Idéias intercaladas



De um modo geral, sempre que quebramos a ordem direta de um período, intercalando idéias entre os termos integrantes da oração ou entre orações de um período, prejudicamos a fluência do texto.



6. Períodos longos



Os professores costumam ensinar que períodos longos prejudicam a clareza e a fluência. O problema não é exatamente o tamanho do período e sim a organização das idéias. Se estiverem intercaladas em excesso, o texto pode se tornar cansativo, mas não será, necessariamente, obscuro. Porém, não é bom redigir períodos muito longos. Veja o exemplo seguinte:

“Apesar disso, se compararmos essa crise na educação com as experiências políticas de outros países no século XX, com a agitação revolucionária que se sucedeu à Primeira Guerra Mundial, com os campos de concentração e de extermínio, ou mesmo com o profundo mal-estar que, não obstante as aparências contrárias de propriedade, se espalhou por toda a Europa a partir do término da Segunda Guerra Mundial, é um tanto difícil dar a uma crise na educação a seriedade devida.”

Apesar disso, é um tanto difícil dar a uma crise na educação a seriedade devida, se compararmos essa crise na educação com as experiências políticas de outros países no século XX, com a agitação revolucionária que se sucedeu à Primeira Guerra Mundial, com os campos de concentração e de extermínio, ou mesmo com o profundo mal-estar que, não obstante as aparências contrárias de propriedade, se espalhou por toda a Europa a partir do término da Segunda Guerra Mundial.”


Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro



6. Reordenando períodos longos



O problema do primeiro texto à direita é que a oração principal — "...é um tanto difícil..." — está no final. Quando lemos seu início — "Apesar disso..." —, esperamos uma continuidade lógica. É como se nossa mente perguntasse "Apesar disso o quê?". Mas a resposta a essa suposta pergunta só vem no final. A impressão é de que metade da nossa mente fica esperando a resposta, enquanto a outra metade continua lendo o restante do período. Quando finalmente o "apesar disso" se junta ao "é um tanto difícil", já lemos o restante do período pela metade. Ficamos então com a sensação de que não entendemos direito. Assim, um problema de estrutura de idéias gera outros de clareza e fluência. Reordenando o período, ele ficaria como no segundo texto.



7. Avalie as possibilidades



As orientações sobre linguagem não são regras infalíveis. Muitas vezes encontramos exemplos que as contradizem. O melhor é procurar saber exatamente quem será nosso leitor e adequar a linguagem a ele. Não se esqueça de que é sempre melhor não criar entraves para a compreensão de seu texto.

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