segunda-feira, 1 de março de 2010

UM PROJETO DE INTELECTUALIDADE

Muita gente reclama que não tem tempo para nada que esteja fora de sua rotina de trabalho ou de estudo, principalmente o concurseiro. São muitas matérias que tem para estudar, cada uma delas com suas particularidades e volumes de conteúdo. No entanto, tenho observado que cada vez mais esse mesmo concurseiro tem se afunilado em um repertório informativo muito pontual, reduzindo-o a uma esfera técnica, usando-o apenas em situações de prova, muito específicas. O resultado disso é a geração de uma pessoa aparentemente informada, pois seu conhecimento de mundo se resume ao conhecimento das disciplinas específicas de determinado concurso, como direito constitucional, direito eleitoral, direito trabalhista, direito previdenciário, direito penal e processual penal, informática, administração, arquivologia, etc.
O que na realidade falta a estes concurseiros (e às pessoas de modo geral) é uma melhor administração do seu tempo, para inserir em seu dia-a-dia um verdadeiro projeto de leitura cuja finalidade maior é dar ao estudande uma visão de mundo mais apurada, holística e capaz de permitir uma análise mais significativa de sua realidade.
É nesse contexto que se agiganta o procedimento da leitura. É óbvio que ler não é (e nem pode ser) uma tarefa martirizante, é preciso antes de qualquer coisa encontrar o prazer pela leitura, nem que, para isso, a busca ocorra durante uma vida.
Paulo Freire, grande pedagogo brasileiro, deixou uma vasta obra sobre os caminhos da pedagogia da libertação. Moacir Gadoti, outro grande brasileiro das Letras, diz que "ler liberta". Paulo Freire emenda: "A leitura do mundo precede a leitura da palavra". Arthur Schopenhauer contribui dizendo que "os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e os promotores da espécie humana são aqueles que leram diretamente no livro do mundo". Todos esses pensadores são unânimes em um ponto: a leitura é o processo pelo qual o ser humano mais se reconhece como um ser do mundo, por estar no mundo, por se permitir se ver como parte desse mundo. É, portanto, a prioridade imediata começar a se ver como um ser do mundo para melhor enxergar o mundo e as palavras que o traduzem.
O mundo de hoje tem características peculiares, é bem verdade. Mas há um grupo de informações que premeia toda a história da civilização e que se caracterizam como universais: as informações que orbitam em torno de o homem versus o homem, o homem versus o meio e o homem versus si mesmo. Criar um projeto de leitura capaz de iniciar uma busca pelo conhecimento, capaz de introduzir o leitor na demanda pelo reconhecimento de tais relações, é fundamental.
Comece questionando-se: o que eu sei sobre o mundo? o que eu sei sobre o homem? o que eu sei sobre mim mesmo? Defina que áreas do conhecimento mais chamam a sua atenção. Comece com leituras introdutórias e autoexplicativas. Busque livros de abordagem mais panorâmica. Mais tarde aprofunde-se. Talvez assim você se liberte daquilo que prende a você àquilo que tem impedido as suas vitórias de acontecerem.

Nenhum comentário: