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Técnica de Elaboração de Parágrafo
O parágrafo é uma unidade de composição do texto constituída por
um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear,
à qual se agregam outras, secundárias,
intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.
Segundo Othon M. Garcia, esse conceito se aplica a um tipo de
parágrafo considerado como padrão, e padrão não apenas no sentido de modelo, de
protótipo, que se deva ou que convenha imitar, dada a sua eficácia, mas também
no sentido de ser frequente, ou predominante, na obra de escritores – sobretudo
modernos – de reconhecido mérito.
(Othon Garcia. Comunicação
em prosa moderna. RJ: FGV, 1988,
p.203)
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O parágrafo-padrão
Em geral, o parágrafo-padrão,
aquele de estrutura mais comum e mais eficaz, – o que justifica seja ensinado
aos principiantes – consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e,
ocasionalmente, de três partes: a introdução,
representada na maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em
que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que passaremos a chamar daqui por diante de tópico frasal ou frase-núcleo); o desenvolvimento,
isto é, a explanação dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou
naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.
(Idem, ibidem, p.206)
O
desenvolvimento de um parágrafo por enumeração
ou descrição de detalhes é dos mais
comuns. Ocorre de preferência quando há tópico
frasal explícito, como no exemplo abaixo extraído do livro O Mulato, de
Aluísio Azevedo:
Era um dia
abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia
entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua;
as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes
diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das
árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo
instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e perna
[calças] arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras
e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava
concentrado, adormecido; só os pretos faziam compras para o jantar, ou andavam
no ganho.
É um
parágrafo bom. Note-se a ideia central,
ou seja, a ideia núcleo expressa no
tópico frasal e desenvolvida através de ideias
secundárias e especificada através dos pormenores: as pedras, os lampiões,
as paredes, as folhas, etc. São detalhes que tornam viva a afirmação “era um
dia abafadiço e aborrecido”.
Leia
agora o parágrafo abaixo e perceba como o autor, através de certos detalhes,
consegue dar-nos uma ideia suficientemente clara do que ele considera como
emoção estética, parte da afirmação contida no tópico frasal, que está explícito:
Arte é tudo o que pode causar uma emoção
estética, tudo que é capaz de emocionar suavemente a nossa
sensibilidade, dando a volúpia do sonho e da harmonia, fazendo pensar em coisas
vagas e transparentes, mas iluminadas e amplas como o firmamento, dando-nos a
visão de uma realidade mais alta e mais perfeita, transportando-nos a um mundo
novo, onde a própria dor se justifica como revelação ou pressentimento de uma
volúpia sagrada. É, em conclusão, a energia criadora do ideal.
Perceba também que, no primeiro parágrafo, temos um
texto narrativo; ao passo que, o segundo é um parágrafo com um texto
dissertativo, onde o autor expressa a sua visão do que seja “arte”. Assim
sendo, podemos concluir que o processo de construção de parágrafos denominado
enumeração serve tanto para parágrafos deste gênero, quanto daquele.
3 Partes componentes do
parágrafo-padrão
Frase
inicial
- também
denominada tópico frasal, é constituída de uma ou duas frases curtas, que
expressam, de maneira sintética, a ideia principal do parágrafo, definindo seu
objetivo;
Frases
de desenvolvimento - corresponde a uma ampliação do tópico frasal, com apresentação de
ideias secundárias que o fundamentam ou esclarecem;
Frase
de conclusão - nem sempre presente, especialmente nos parágrafos mais curtos e
simples, a conclusão retoma a ideia central, levando em consideração os
diversos aspectos selecionados no desenvolvimento.
Mais um exemplo. Leia o parágrafo abaixo e veja
onde cada tipo de frase ocorre:
A “internet” é uma
rede mundial de computadores que não pertence a nenhum governo ou empresa.
Surge nos Estados Unidos, na década de 60, na época da Guerra Fria, com base em
uma rede de informações militares que interliga centros de comando e de
pesquisa bélica. Para atender à necessidade militar de proteger os sistemas de
defesa do país no caso de um ataque nuclear, a rede não tem um
"centro" que poderia servir de alvo principal ao inimigo. Nos anos 70
começa a ser utilizada pela comunidade acadêmica mundial, e, em 1975, são
feitas as primeiras ligações internacionais. Nesse período, os computadores
conectados não passam de 200. Em 1997, segundo a Direct Marketing Association
(DMA) e a Price Waterhouse, empresas norte-americanas de consultoria em
marketing, o número de usuários chega a 60 milhões em todo o mundo. De acordo
com as projeções de crescimento, deve alcançar 300 milhões no ano 2000.
4 A importância do tópico-frasal
O tópico frasal é de suma importância tanto para quem escreve quanto para quem lê o parágrafo.
Ø Para quem escreve, é importante para não “se perca” ao escrever, pois terá aquela ideia como base do parágrafo, evitando assim um aglomerado de ideias soltas. O tópico frasal será o seu “norte”.
Ø Para o leitor, é importante porque, ao iniciar a leitura do parágrafo tópico frasal, ele já sabe que ideia irá encontrar ao longo do parágrafo.
Observe como os tópicos-frasais bem elaborados encaminham boas argumentações nos exemplos a seguir.
Todos sabem que a cada dia se torna mais difícil trafegar pelas ruas da capital amazonense. Com a facilidade que existe hoje para se adquirir um automóvel, o número de veículos em circulação vem crescendo em larga escala. Só que a cidade não foi preparada para essa nova realidade. Cresceu rápida e desordenadamente nas últimas décadas, sem ruas e bairros planejados para a grande demanda de carros. Isso, somado à falta de preparo de motoristas e pedestres, resultou no trânsito confuso e estressante de hoje.
(Carlos Guedelha)
Quatro funções básicas têm sido atribuídas aos meios de comunicação: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos e comentários sobre a realidade. A segunda atende à procura de distração, de evasão, de divertimento por parte do público. A terceira procura persuadir o indivíduo, convencê-lo a adquirir certo produto. A quarta é realizada de modo intencional ou não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos.
(Samuel P. Netto)
O Brasil tem 31 milhões de crianças, destas, apenas três milhões terminarão o curso secundário. É uma forma de abandono disfarçado, mesmo daquelas que não dormem na rua. Um programa educacional para todas essas crianças não se fará pela lógica do crescimento econômico, mas sim usando um crescimento econômico que seja subordinado e compatível com a educação.
(Cristóvam Buarque, Humanidades, n. 1, 1992. pp. 10-12)
A globalização é o estágio supremo da internacionalização. O processo de intercâmbio entre países, que marcou o desenvolvimento do capitalismo desde o período mercantil dos séculos XVII e XVIII, expande-se com a industrialização, ganha novas bases com a grande indústria nos fins do século XIX e, agora, adquire mais intensidade, mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de trocas: técnicas, comerciais, financeiras, culturais.
(Milton Santos, Folha de S. Paulo, 5 abr. 1996)