segunda-feira, 1 de março de 2010

CONJUNÇÕES

ELEMENTOS DE COESÃO (PARTE I)
(Clique na imagem para ampliá-la)


1. Examinemos os seguintes provérbios:
O mal e o bem à face vêm.
Deseja o melhor e espera o pior.
Só dura a mentira enquanto a verdade não chega.

No primeiro, encontramos a palavra e, que está ligando dois termos de uma oração: o mal e o bem.
No segundo, vemos a mesma palavra e, que está ligando duas orações de sentido completo e independente: Deseja o melhor. Espera o pior.
No terceiro, aparece a palavra enquanto unindo duas orações que não podem ser separadas sem que fique alterado o sentido que expressam, pois a segunda depende da afirmação contida da primeira.
Os vocábulos invariáveis que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração chamam-se CONJUNÇÕES.
As conjunções que relacionam termos ou orações de idêntica função gramatical têm o nome de COORDENATIVAS.
Denominam-se SUBORDINATIVAS as que ligam duas orações, uma das quais determina ou completa o sentido da outra.

2. Percebe-se facilmente a diferença entre as conjunções coordenativas e as subordinativas quando comparamos construções de orações a construções de nomes.
Assim, nestes enunciados:

Ler e escrever. A leitura e a escrita.
Ler ou escrever. A leitura ou a escrita.

Vemos que a conjunção coordenativa não se altera com a mudança de construção, pois liga elementos independentes, estabelecendo entre eles relações de adição, no primeiro caso, e de igualdade ou de alternância, no segundo.
Já nos enunciados seguintes:

Quando tiver lido o livro, escreva a carta.
Após a leitura, a escrita.

Observamos a dependência do primeiro termo ao segundo.
No último exemplo, em lugar da conjunção subordinativa (quando), temos uma preposição (após), que está indicando a dependência de um elemento a outro.

CONJUNÇÕES COORDENATIVAS

1. Classificação

Classificam-se as conjunções coordenativas em ADITIVAS, ADVERSATIVAS, ALTERNATIVAS, CONCLUSIVAS e EXPLICATIVAS.

a) ADITIVAS, que servem para ligar simplesmente dois termos ou duas orações de idêntica função: e, nem [= e não]

Tinha saúde e robustez.
Pulei do banco e gritei de alegria.
Não é gulodice nem interesse mesquinho.

b) ADVERSATIVAS, que ligam dois termos ou duas orações de igual função, acrescentando-lhes, porém, uma idéia de contraste:mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto.

Seu quarto é pobre, mas nada lhe falta.
Cada uma delas doía-me intensamente; contudo não me indignavam.

c) ALTERNATIVAS, que ligam dois termos ou orações de sentido distinto, indicando que, ao cumprir-se um fato, o outro não se cumpre: ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, nem...nem, já...já, etc.

Para arremedar gente ou bicho, era um gênio.
Ou eu me retiro ou tu te afastas.

d) CONCLUSIVAS, que servem para ligar à anterior uma oração que exprime conclusão, conseqüência: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim, então.

Não pacteia com a ordem; é, pois, um rebelde.
Ouço música, logo ainda não me enterraram.

e) EXPLICATIVAS, que ligam duas orações, a segunda das quais justifica a idéia contida na primeira: que, porque, pois, porquanto.

Dorme, que eu penso.
2. Posição das conjunções coordenativas
Nem todas as CONJUNÇÕES COORDENATIVAS encabeçam a oração que delas recebe o nome. Assim:

1. Das CONJUNÇÕES COORDENATIVAS apenas mas aparece obrigatoriamente no começo da oração; contudo, entretanto, no entanto, porém e todavia podem vir no início da oração, ou após um de seus termos. Sirvam de exemplo estes períodos:

Tentou subir, mas não conseguiu.
Tentou subir, porém não conseguiu.
Tentou subir; não conseguiu, porém.

2. Pois, quando CONJUNÇÕES CONCLUSIVA, vem sempre posposta a um termo da oração a que pertence:

Era, pois, um homem de grande caráter e foi, pois, também um grande estilista. (J. RIBEIRO)
3. As conclusivas logo, portanto e por conseguinte podem variar de posição, conforme o ritmo, a entoação, a harmonia da frase.

CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS

1. Classificação

As conjunções subordinativas classificam-se em CAUSAIS, CONCESSIVAS, CONDICIONAIS, CONFORMATIVAS, COMPARATIVAS, CONSECUTIVAS, FINAIS, PROPORCIONAIS, TEMPORAIS, e INTEGRANTES.
As causais, concessivas, condicionais, conformativas, finais, proporcionais, temporais, comparativas e consecutivas iniciam ORAÇÕES ADVERBIAIS. As integrantes introduzem ORAÇÕES SUBSTANTIVAS.

Exemplifiquemos:

a) CAUSAIS (iniciam uma oração subordinada denotadora de causa): porque, pois, porquanto, como [= porque], pois que, por isso que, já que, uma vez que, visto que, visto como, que, etc.

Dona Luísa fora para lá porque estava só.
Como o calor estivesse forte, pusemo-nos a andar pelo Passeio Público.

b) COMPARATIVAS (iniciam uma oração que encerra o segundo membro de uma comparação, de um confronto): que, do que (depois de mais, menos, maior, menor, melhor, pior) qual (depois de tal), quanto (depois de tanto), como, assim como, bem como, como se, que nem.

Era mais alta que baixa.
Nesse instante, Pedro se levantou como se tivesse levado uma chicotada.

c) CONCESSIVAS (iniciam uma oração subordinada em que se admite um fato contrário à ação principal, mas incapaz de impedi-la): embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, apesar de que, nem que, que, etc.

Pouco demorei, conquanto muitos fossem os agrados.
É todo graça, embora as pernas não ajudem...

d) CONDICIONAIS (iniciam uma oração subordinada em que se indica uma hipótese ou uma condição necessária para que seja realizado ou não o fato principal): se, caso, quando, contanto que, salvo se, sem que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que, etc.

Seria mais poeta, se fosse menos político.
Consultava-se, receosa de revelar sua comoção, caso se levantasse.
e) CONFORMATIVAS (iniciam uma oração subordinada em que se exprime a conformidade de um pensamento com o da oração principal): conforme, como [= conforme], segundo, consoante, etc.:

Cristo nasceu para todos, cada qual como o merece...
Tal foi a conclusão de Aires, segundo se lê no Memorial.

f) CONSECUTIVAS (iniciam uma oração na qual se indica a consequência do que foi declarado na anterior): que (combinada com uma das palavras tal, tanto, tão ou tamanho, presentes ou latentes na oração anterior), de forma que, de maneira que, de modo que, de sorte que.

Soube que tivera uma emoção tão grande que Deus quase a levou.
g) FINAIS (iniciam uma oração subordinada que indica a finalidade da oração principal): para que, a fim de que, porque [= para que], que

Aqui vai o livro para que o leias.
Fiz-lhe sinal que se calasse...

h) PROPORCIONAIS (iniciam uma oração subordinada em que se menciona um fato realizado ou para realizar-se simultaneamente com o da oração principal): à medida que, ao passo que, à proporção que, enquanto, quanto mais... (mais), quanto mais... (tanto mais), quanto mais... (menos), quanto mais... (tanto menos), quanto menos... (menos), quanto menos... (tanto menos), quanto menos... (mais), quanto menos... (tanto mais)

Ao passo que nos elevávamos, elevava-se igualmente o dia nos ares.
Tudo isso vou escrevendo enquanto entramos no Ano Novo.

i) TEMPORAIS (iniciam uma oração subordinada indicadora de circunstância de tempo): quando, antes que, depois que, até que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, mal, que [= desde que], etc.:

Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Implicou comigo assim que me viu.

j) INTEGRANTES (servem para introduzir uma oração que funciona como sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal ou aposto de outra oração): que e se
Quando o verbo exprime uma certeza, usa-se que; quando incerteza, se:

Afirmo que sou estudante.
Não sei se existe ou se dói.

2. Polissemia conjuncional
Como vimos, algumas conjunções subordinativas (que, se, como, porque, etc) podem pertencer a mais de uma classe. Em verdade, o valor desses vocábulos gramaticais está condicionado ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de ambigüidade, pois que há circunstâncias fronteiriças: a condição da concessão, o fim da consequência, etc.

Locução conjuntiva
A par das conjunções simples, há numerosas outras formadas da partícula que antecedida de advérbios, de preposições e de particípios. São chamadas LOCUÇÕES CONJUNTIVAS: antes que, desde que, já que, até que, para que, sem que, dado que, posto que, visto que, uma vez que, à medida que.

UM PROJETO DE INTELECTUALIDADE

Muita gente reclama que não tem tempo para nada que esteja fora de sua rotina de trabalho ou de estudo, principalmente o concurseiro. São muitas matérias que tem para estudar, cada uma delas com suas particularidades e volumes de conteúdo. No entanto, tenho observado que cada vez mais esse mesmo concurseiro tem se afunilado em um repertório informativo muito pontual, reduzindo-o a uma esfera técnica, usando-o apenas em situações de prova, muito específicas. O resultado disso é a geração de uma pessoa aparentemente informada, pois seu conhecimento de mundo se resume ao conhecimento das disciplinas específicas de determinado concurso, como direito constitucional, direito eleitoral, direito trabalhista, direito previdenciário, direito penal e processual penal, informática, administração, arquivologia, etc.
O que na realidade falta a estes concurseiros (e às pessoas de modo geral) é uma melhor administração do seu tempo, para inserir em seu dia-a-dia um verdadeiro projeto de leitura cuja finalidade maior é dar ao estudande uma visão de mundo mais apurada, holística e capaz de permitir uma análise mais significativa de sua realidade.
É nesse contexto que se agiganta o procedimento da leitura. É óbvio que ler não é (e nem pode ser) uma tarefa martirizante, é preciso antes de qualquer coisa encontrar o prazer pela leitura, nem que, para isso, a busca ocorra durante uma vida.
Paulo Freire, grande pedagogo brasileiro, deixou uma vasta obra sobre os caminhos da pedagogia da libertação. Moacir Gadoti, outro grande brasileiro das Letras, diz que "ler liberta". Paulo Freire emenda: "A leitura do mundo precede a leitura da palavra". Arthur Schopenhauer contribui dizendo que "os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e os promotores da espécie humana são aqueles que leram diretamente no livro do mundo". Todos esses pensadores são unânimes em um ponto: a leitura é o processo pelo qual o ser humano mais se reconhece como um ser do mundo, por estar no mundo, por se permitir se ver como parte desse mundo. É, portanto, a prioridade imediata começar a se ver como um ser do mundo para melhor enxergar o mundo e as palavras que o traduzem.
O mundo de hoje tem características peculiares, é bem verdade. Mas há um grupo de informações que premeia toda a história da civilização e que se caracterizam como universais: as informações que orbitam em torno de o homem versus o homem, o homem versus o meio e o homem versus si mesmo. Criar um projeto de leitura capaz de iniciar uma busca pelo conhecimento, capaz de introduzir o leitor na demanda pelo reconhecimento de tais relações, é fundamental.
Comece questionando-se: o que eu sei sobre o mundo? o que eu sei sobre o homem? o que eu sei sobre mim mesmo? Defina que áreas do conhecimento mais chamam a sua atenção. Comece com leituras introdutórias e autoexplicativas. Busque livros de abordagem mais panorâmica. Mais tarde aprofunde-se. Talvez assim você se liberte daquilo que prende a você àquilo que tem impedido as suas vitórias de acontecerem.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A leitura é, sem dúvida, uma daquelas ações que é multifacetada. E, por ser exatamente assim, ela permite, a um só tempo, ser ponto de partida e ponto de chegada da nossa formação intelectual. Assista esse vídeo sobre "O que acontece quando lemos" (disponível no sítio Domínio Público) e faça seus comentários sobre a seguinte questão: quem lê mais escreve fatalmente melhor?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

REDAÇÃO em concurso público

O corriqueiro adágio “Em terra de sapo, de cócoras com ele” parece ainda não ter sido compreendido pela maioria esmagadora dos “concurseiros” de São Luís do Maranhão. Porém, já foi muito bem compreendido pelas instituições que necessitam de servidores cada vez mais capazes de se comunicarem e de lerem eficazmente.
O lançamento dos editais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e do Tribunal de Justiça (TJ) do Maranhão não deixam dúvidas sobre essa questão. Ambos solicitam em suas avaliações a prova discursiva como um instrumento medidor de uma série de conhecimentos. Chamo-a instrumento porque é capaz de mensurar não só parte do conhecimento específico e de mundo, mas também por ser capaz de verificar as habilidades linguísticas e o repertório vocabular dos candidatos.
O concurso do TRE solicita prova discursiva para os cargos de nível superior (Analistas Judiciários). A prova terá caráter eliminatório e classificatório e valerá até 10,00 (dez) pontos. Consistirá na elaboração de um texto, de 30 (trinta) linhas no máximo, acerca dos temas elencados no item 14 do edital elaborado pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE/UnB), dentre os quais podem ser destacados os assuntos relacionados a Direito Constitucional, a Direito Administrativo, a Administração Pública, a Direito Civil e Penal, a Direito Eleitoral, a Atualidades em geral. Além disso, a banca avaliará o domínio do candidato sobre a língua portuguesa escrita em nível culto, o manuseio dos recursos coesivos e denotadores de coerência para a elaboração de um texto que, segundo o edital, pode ser narrativo, descritivo ou dissertativo.
Já o Instituto de Estudos Superiores do Extremo Sul (IESES) deu à redação um caráter mais abrangente: exigiu a modalidade de prova discursiva para todos os cargos, de nível fundamental a nível superior. Também a estrutura da prova é totalmente diferente. No concurso do TJ-MA, a prova discursiva para os cargos de nível superior e de nível médio constará de 5 (cinco) questões teóricas e/ou práticas, que consistirão na execução de atos próprios do cargo-especialidade a ser provido, e versarão sobre as disciplinas e respectivos programas de cargo-especialidade, indicados para a prova objetiva apresentados no edital do concurso, como, por exemplo, noções de Administração Geral e Administração Financeira e Orçamentária ,para o cargo de Analista Judiciário – Especialidade Administrador; noções de Sistemas Operacionais, Internet, Engenharia de Informação, Linguagens de Programação, para o cargo de Analista Judiciário – Especialidade Analista de Sistemas – Desenvolvimento; noções de Administração Geral, Comunicação e seus Elementos, Gerenciamento eletrônico de Documentos – GED –, Expedição de Correspondência Oficial ,para o cargo de Técnico Judiciário – Especialidade Apoio Técnico Administrativo. Já os cargos de nível fundamental, Auxiliar Judiciário – Especialidade Apoio Administrativo e Auxiliar Judiciário – Especialidade Telefonista, terão como prova discursiva 2 (duas) questões, versando sobre assuntos relacionados à Organização Judiciária do Maranhão, 1 (uma) questão de Matemática,abrangendo os programas indicados para a Prova de Conhecimentos Básicos, e 1 (uma) redação. Os critérios de elaboração das respostas nas provas discursivas também são diferenciados em alguns pontos: as provas de nível superior deverão ter respostas apresentadas em um mínimo de 20 (vinte) e um máximo de 30 (trinta) linhas, cada uma; as provas de nível médio e fundamental, terão respostas variando entre 10 (dez) e 15 (quinze) linhas cada resposta; já a redação prevista para os cargos de nível fundamental deverá ser construída com no mínimo 20 (vinte) e no máximo 30 (trinta) linhas.
Todas as provas que envolvem a produção textual avaliarão a um só tempo as habilidades linguísticas dos candidatos, bem como a sua capacidade de síntese, de leitura, de percepção de enunciados. Todos sabem disso. Entretanto, há um provérbio chinês que alerta “uma coisa é saber que o caminho existe, outra é conhecê-lo”. Muitos candidatos sabem quais são os critérios a serem julgados numa prova de redação. Muitos candidatos sabem que é a redação que definirá muito bem a posição de cada aprovado nestes concursos. Muitos sabem, mas poucos se deram ao trabalho (árduo trabalho) de procurar trilhar este caminho.
Muitos jovens atravessaram o tortuoso caminho de sua formação intelectual lendo pouco e escrevendo menos ainda. Passaram pela educação, mas não deixaram a educação marcar-lhes profundamente as habilidades. Salvo os que não sabem porque não tiveram acesso à boa escola e a bons mestres, a grande maioria dos candidatos que pleiteiam uma vaga no TRE e no TJ acumulou dúvidas, vícios de linguagem, dificuldades de toda sorte em matéria de produção textual.
Agora, é chegada a hora das cobranças. E quem foi maduro o suficiente para perceber suas falhas, seus pontos fracos, e antecipou-se estudando com afinco e com antecedência, treinando a redação sob orientação de professores, informando-se, não poupando esforços para se superar, está prestes a coroar com vitória a sua trajetória de trabalho e dedicação.
Fazer diferente é ponto fundamental para vencer e aprender. Assumir novas posturas frente ao estudo é condição substantiva para tal empreendimento. Por isso, faça diferente a aprenda!

Boa sorte a todos.

Prof. Adeildo Júnior.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

AS ORAÇÕES ADVERBIAIS NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO



O texto que segue é de autoria desconhecida. Alguns, entretanto, o atribuem ao escritor argentino Jorge Luís Borges. Leia o texto e responda às questões propostas.


Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares aonde nunca fui, tornaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveram sensata e produtivamente cada minuto da sua vida, claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso e feita a vida, só de bons momentos; não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, urna bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Dana mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse urna vida outra vez pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

PARA QUE SERVEM AS ORAÇÕES ADVERBIAIS?

As orações adverbiais estabelecem relações lógicas e coesivas importantes na construção de um texto. Servem para inserir noções de tempo, finalidade condição, concessão ou ainda para estabelecer comparação, concomitância ou relações de causa e conseqüência entre dois fatos.
Embora as orações adverbiais sejam comuns na fala, alguns tipos aparecem mais restritamente em textos escritos, de acordo com o padrão culto da língua e com certo grau de elaboração de idéias.

01. Ao chegar aos 85 anos, o autor do texto faz uma avaliação de sua vida. Nessa espécie de “balanço”:
a) o que lamenta não ter vivido?
b) o que mais lamenta na forma como viveu a vida?

02. O texto contrapõe dois planos o da realidade concreta, já vivida, e o da realidade hipotética, que não foi mais poderia ter sido vivida.
a) Qual é a oração que permite adentrar o mundo da realidade hipotética?
b) Em que tempo e modo está a forma verbal dessa oração?
c) Que valor semântico essa oração expressa?
d) Identifique, no texto, outras orações com o mesmo valor semântico.

03. Observe que, tendo adentrado o mundo hipotético, várias orações (por exemplo, “Se­na mais tolo ainda [...]“, “Seria menos higiênico”, “Iria a mais lugares [...]“, etc.) descrevem a forma ideal de vida, de acordo com a ótica do autor.
a) Em que tempo e modo estão as formas verbais dessas orações?
b) O que esse tempo e modo verbais expressam semanticamente nesse contexto?
c) Como forma de justificar suas projeções hipotéticas, o autor introduz em alguns trechos flashes do passado e relata o modo como viveu. Identifique no 7º parágrafo uma oração subordinada adverbial causal que cumpra o papel de justificar as projeções hipotéticas do autor.

04. O último parágrafo rompe com o mundo hipotético e traz o autor de volta para o plano da realidade concreta. O parágrafo é introduzido pela conjunção mas, que tem o valor semântico de oposição. A que idéia anterior esse parágrafo se opõe?

05. Justifique o título do texto.

06. Como conclusão do estudo, indique o item que resume melhor o papel das orações adverbiais condicionais para a construção do texto lido:
a) Elas introduzem a condição necessária para que o autor faça uma retrospectiva crítica de sua vida.
b) Elas introduzem um plano hipotético a partir do qual o autor imagina como poderá viver melhor.
c) Elas introduzem a condição necessária para que o autor adentre o mundo hipotético em torno do qual o texto é construído.
d) Elas introduzem a condição necessária para que o autor possa dar conselhos a outras pessoas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CONJUNÇÕES BÁSICAS: SE e QUANDO

Por Velimatti Towonen, Timo Kauppi e Tim Murphey

Muitos terapeutas e comunicadores eficazes usaram intuitivamente as conjunções "se" e "quando" da maneira certa para um bom resultado. As imagens e processos cerebrais produzidos, quando se usa cada um deles, são completamente diferentes. Experimente o seguinte:

Pense em algum resultado que você ainda não obteve. Então diga sobre o dito resultado (X):

* "Se eu alcançar .../ obterei X".

Preste atenção como é sua imagem mental, qual é o processo, se existe algum, ao nível da experiência sensorial, e como você se sente sobre X agora?

Então diga sobre o mesmo resultado:

* "Quando eu alcançar / obterei X".

O que acontece agora com a imagem mental? Qual é o processo iniciado em sua mente por esta sentença? E como você se sente sobre X agora?

Você pode comparar o que você observou com as experiências de outras pessoas com as quais nós trabalhamos. Para a maioria das pessoas, imagens associadas com " se X " são de alguma forma pouco claras, indecisas, titubeantes, como um desejo, o qual não têm certeza de alcançar. Comparadas com " quando X " a imagem " se X " é seguidamente mais distante, menos colorida, podendo até existir em preto e branco. As sensações do "se X" usualmente não são muito motivadoras e nem muito fortes.

Quando é mudada para quando, para muitas pessoas a imagem surge mais próxima, torna-se maior, pode se tornar mais colorida, podendo até transformar-se em um filme colorido etc. e seguidamente se move para o futuro na linha do tempo. Quaisquer que sejam as mudanças que a submodalidade apresentar para um indivíduo com "quando X", elas são sentidas de forma mais verdadeira, muito mais realizável e surpreendentemente muitas pessoas dizem: "Eu agora tenho certeza que vou obter, sem problemas." Ou: "Eu sinto quase como se já tivesse. Agora é mais como um fato do que como um sonho".

Se você prestou bastante atenção ao processo iniciado por "quando", você possivelmente observou outras coisas que muitas pessoas experimentaram: Quando começa um processo onde o cérebro faz um plano ou constrói os passos de como alcançar X. Este processo automático de planejar gera uma sensação de "certeza de obter" em relação ao "quando X ".

Esta diferença entre quando e se pode ser semelhante à diferença entre acreditando e desejando para os clientes.

Quando eles acreditam que vão ficar bem, eles tomam mais atitudes que lhes darão melhores chances de alcançar aquele resultado. Se eles apenas têm esperança de ficar bem eles não fazem muito porque estão inseguros de qualquer benefício. Imagine suas diferentes reações agora se um médico lhe dissesse:

* Quando você ficar melhor...
e
* Se você ficar melhor

ou

* Eu acredito que você ficará melhor...
e
* Eu desejo que você fique melhor...

Cada vez que você pronunciou uma ou outra, a pessoa que estiver ouvindo e tentando entender o que você diz entra no processo descrito acima. Após entender isto, fica-se muito interessado em como usá-los (estas conjunções) para obter o efeito máximo.

Na análise acima de se e quando, tentamos, tanto quanto possível, isolar o efeito das conjunções e das outras palavras e estruturas da sentença que pudessem exercer sua própria influência na experiência sensorial, fisiologia e processos cerebrais. Outros fatores, como ecologia, têm influência também.

Em terapia, por exemplo, pode haver uma frase onde é apropriado usar se, porque pode ser mais fácil para o cliente pensar sobre as possibilidades de comprometer-se: em algumas outras frases pode ser necessário falar quando, porque cada quando coloca o cérebro do cliente num processo de construir os passos em direção a um resultado. Se e quando vêm de dois mundos completamente diferentes, criam associações diferentes, os pensamentos e sensações são diferentes. É uma grande mudança mover um X do mundo do se para o mundo do quando e vice versa.

Como muitas outras distinções em PNL, há pessoas que preferem se e há outras que preferem quando. Você pode querer acompanhar o tipo de conetivo que a outra pessoa está usando, antes de liderá-la para um novo mundo.

Nossa idéia é que estes conetivos básicos são uma das maneiras pelas quais a linguagem estrutura nossa experiência e nosso mapa do mundo em um nível abstrato e muito profundo. Por exemplo, os tempos de verbo são tão automáticos que na realidade não há como evitá-los: quando você diz quando para uma pessoa que está lhe ouvindo, o cérebro dela faz o processo do quando antes que ela possa pensar sobre isto. Este é o primeiro sinal. Se o quando é irrealístico ou não ecológico, a pessoa recebe algum outro tipo de sinal e no segundo sinal reconsidera e pula fora da palavra quando. Isto acontece algumas vezes, mas você pode reconstruir o rapport que perdeu.

O uso sutil de SE e QUANDO

Se e quando são apenas a ponta do iceberg de como transmitir diferentes graduações de significado sobre o que será possível ou não. Se você adicionar operadores modais e formas e tempos verbais, você poderá fazer diferenças muito mais sutis. Você pode estudar as sentenças seguintes para descobrir o que elas fazem no seu processo cerebral, na sua experiência sensorial e na sua fisiologia associada:

* "Se você pudesse fazer isso..."
* "Se você puder fazer isso..."
* "Se você pode fazer isso..."
* "Quando você puder fazer isto..."
* "Se algum dia for possível, como seria?"
* "Agora suponhamos que um dia seja possível. Quando for, como será?"
* "E agora sabendo como é quando for possível, como será após tê-lo feito?"
* "E agora, tendo já feito isso, observe as coisas que você faz para que isso aconteça, quando você quiser."
* "Agora, eu não sugeriria que você fizesse estas coisas agora. Faça-as somente quando você estiver pronto para realizá-las."


POR VELIMATTI TOWONEN, TIMO KAUPPI E TIM MURPHEY Extraído da Anchor Point de outubro de 1993 Tradução: Evanice L. Pauletti Revisão: M.Helena Lorentz Publicado no "Golfinho" impresso nº42 - JUL/98

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

LER E PRAZER


Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que a cabeça esteja vazia de pensamentos para que os olhos possam ver. Aprendi isso lendo Alberto Caeeiro, especialista inigualável na difícil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos olhos...” Mas meus esforços são frustrados. As coisas que vejo são como o beijo do príncipe: elas vão acordando os poemas que aprendi de cor e que agora estão adormecidos na minha memória. Assim, ao não pensar da visão une-se o não pensar da poesia. E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei. Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da beleza. “Aquilo que a memória amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida. Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo. Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...


Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso entortou quando ele disse: “Vão também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da Odisséia, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...


Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer. E antes que tivessem idéias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária dirigi-me a eles, ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa...” Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que eu fosse, lá vinham eles com a Odisséia na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me deram descanso.


Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que freqüentei. Havia uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos. Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha do tesouro. Quando a aula terminava era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser armazenadas na cabeça. Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformações alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que leiam Guimarães Rosa que dizia que literatura é feitiçaria que se faz o sangue do coração humano.


Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura o professor lhes deu como dever de casa ler e fichar um livro chatíssimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento para os pais. A pura visão do livro provocava uma preguiça imensa, aquela preguiça que Barthes declarou ser essencial à experiência escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges havia declarado que não havia razão para se ler um livro que não dá prazer quando há milhares de livros que dão prazer. Sugeri-lhe começar por algo mais próximo da condição emotiva dos jovens. Ele me respondeu com o discurso de esquerda, que sempre teve medo do prazer: “ O meu objetivo é produzir a consciência crítica...” Quando eu li isso percebi que não havia esperança. O professor não sabia o essencial. Não sabia que literatura não é para produzir consciência crítica. O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta, ou são de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus “nem só de beijos e transas viverá o amor mas de toda palavra que sai das mãos dos escritores...”E foi em meio a essas meditações que, sem que eu o esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura... Mas o espaço acabou... O jeito é deixar para o próximo mês...



Por Rubem Alves, in: Folha de S. Paulo